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Agressão psicológica lidera denúncias

Vanuza Borges

| Edição de 13 de abril de 2017 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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O Big Brother Brasil, que encerra hoje a edição 2017, mostrou nos últimos dias cenas típicas de um relacionamento abusivo, situação que muitas vezes passa batida no dia a dia e não chega à Delegacia da Mulher. O cirurgião plástico Marcos Harter foi expulso na noite da última segunda-feira do reality show após gritar, encurralar, beliscar e segurar a namorada Emilly Araújo pelo braço. O caso ganhou repercussão imediata nas redes sociais, inclusive foi um dos assuntos mais comentados do Twitter, e revela uma situação vivenciada por inúmeras mulheres. Por dia, em média, duas mulheres procuram à Delegacia da Mulher de Apucarana, para denunciar algum tipo de violência psicológica. São 85 boletins por mês registrado na unidade, 70% dos casos, segundo a polícia são por violência psicológica.

Imagem ilustrativa da imagem Agressão psicológica lidera denúncias

Assim como nas inúmeras mensagens compartilhadas nas redes sociais, no mundo real não faltam depoimentos de mulheres que são subjugadas rotineiramente. A estudante de Letras, de 30 anos, que prefere não ter nome revelado, viveu por oito anos a experiência de um relacionamento abusivo. No início, ela acreditava que era uma forma de cuidado. “O abuso não vinha em forma de agressão física, aliás nunca chegou perto disso. Era mais na dimensão psicológica. Era algo direcionado para deixar minha autoestima baixa. Fazia parecer que ele estava me fazendo um favor por estar comigo”, relata.
A estudante revela que ouvia do namorado, com frequência, que que tinha ideias idiotas, que era uma pessoa muito difícil de lidar e que, por isso, outra pessoa já teria desistido de um relacionamento com ela. E, aos poucos, as palavras foram tomando forma. “Começou a fazer coisas que me desagradavam com a desculpa de que tinha sofrido muitos anos comigo ditando regras no relacionamento. Uma dessas coisas foi me trair com uma pessoa onze anos mais nova e sustentar até o último dia da relação que tinha feito aquilo porque a culpa era minha”, diz.
Porém, a apucaranense, que chegou a se afastar dos amigos, só conseguiu entender que o relacionamento era prejudicial e decidiu pôr um fim quando assistiu a um vídeo no canal Jout Jout, que falava sobre relacionamento abusivo, além de passar a pesquisar sobre o assunto e a participar de grupos sobre o tema nas redes sociais.
Diferente da estudante de letras, a autônoma, de 34 anos, ainda não conseguiu romper com um relacionamento que ela própria classifica como doentio. Assim como no caso da estudante, primeiro vieram insinuações que ruíram a sua autoestima. “Sempre me fazia me sentir culpada, dizia que a culpa era minha por relacionamentos anteriores não ter dado certo. O problema maior aconteceu quando descobri uma traição. Confrontado, ele me bateu por mais de uma hora. Me batia e me beijava dizendo que era para eu aprender a ser mulher. Que só estava me batendo, porque me amava e que eu tinha que aceitar que homem tem direito de fazer tudo o que quiser”, detalha.
Entretanto, ela não sabe explicar os motivos que a levaram a não denunciar. “Estou juntando forças ainda. Estou conseguindo pagar as contas da casa sozinha. Isso me dá mais segurança, inclusive pedi para que ele saísse, mas sempre pede mais uns dias”, revela.

Violência é progressiva
De cada dez mulheres que buscam a Delegacia da Mulher em Apucarana, sete registram boletim de ocorrência por ameaça seguida de injúria. Por mês, a unidade registra cerca de 85 boletins de ocorrência. A delegada da Mulher, Luana Lopes, explica que Lei Maria da Penha descreve cinco tipos de violência doméstica: física, psicológica, moral, patrimonial e sexual.
Na avaliação da delegada, a violência contra a mulher é progressiva, geralmente começa na esfera psicológica e vai avançando para física. “As denúncias chegam quando o autor passa a fazer ameaças”, diz.
A psicóloga Ana Maria Baptistella Toth, de Apucarana, observa que no início do namoro, por causa do encantamento com o outro, fica mais difícil de perceber os sinais de abuso. “Muitas vezes, começa de forma sutil, como se fosse uma forma de cuidado e vai destruindo a autoestima. As pessoas que se submetem a esse tipo de relacionamento, geralmente, têm poucas defesas. Tendem a ser mais deprimidas, a se sentirem inferiores e, com isso, o relacionamento vai se perpetuando”, diz. A especialista orienta que a vítima procure ajuda profissional ou apoio na família, para romper com este tipo de relacionamento.