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Crise faz trabalho informal bater recorde histórico no Brasil

CINDY SANTOS

| Edição de 10 de novembro de 2019 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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A informalidade no mercado de trabalho atingiu recorde histórico. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com relação ao trimestre encerrado em setembro, 38,8 milhões dos trabalhadores são informais, ou 41,4% do total da força de trabalho ocupada no país. No Paraná, essa forma de ocupação está cada vez mais comum. A cada três trabalhadores, um está na informalidade. É o caso do estudante universitário Jeferson José Correia, 32 anos, de Apucarana que precisou abandonar o trabalho no comércio para se dedicar aos estudos e precisou arranjar uma renda alternativa. 
Correia aproveitou sua grande habilidade na cozinha e começou a produzir várias receitas como escondidinho, caldos e até sukiyaki. Para fazer a propaganda, o estudante aposta nas redes sociais onde divulga seu cardápio diariamente. “Foi uma alternativa de aumento de renda no orçamento familiar. Infelizmente, não podia mais atuar no comércio que era minha profissão e também por estar no último ano da universidade que conta com o estágio obrigatório. As oportunidades de emprego e renda se tornaram muito limitadas, o que me fez analisar sobre como, quando e onde eu poderia aumentar ou ter minha renda”, comenta. 
De acordo com ele, a renda que ganha trabalhando por conta continua a mesma de quando ele estava no comércio. E segundo ele existem muitas vantagens de ser autônomo. “Você trabalha no seu tempo, dia e hora. Não sobrecarrega seu corpo com estresse, ansiedade e pressão profissional que ocorre em muitos trabalhos formais que usam a ameaça para pressionar o profissional.  E também a vantagem de os fins de semana você estar livre, sem compromissos ou algo assim para descansar e estudar, que é o meu caso”, assinala. 
A apucaranense Edina Basso Miquelão, 66 anos, é vendedora ambulante há 23 anos. Conhecida no comércio como ‘tia da bolacha’, ela conta que foi em uma situação difícil que precisou arrumar uma alternativa para incrementar a renda. “Eu e meu marido tínhamos uma mercearia e de repente e faliu. Meu marido ficou desempregado e naquela época nós pagávamos aluguel”, conta. 
Desde aquela época Edina já fazia bolachinhas caseiras para a família e as duas filhas dela, que trabalhavam no comércio, levavam para lanchar. “O pessoal das lojas experimentou e gostou e começou a encomendar. Logo a notícia se espalhou e comecei a vender para funcionários de outras lojas”, afirma. 
Após a fase difícil, o marido de Edina arrumou um emprego e a situação financeira da família melhorou, tanto que eles conseguiram conquistar a casa própria. “A gente conseguia manter a casa com o dinheiro do meu trabalho e meu marido guardava o salário dele. Depois de 10 anos compramos uma casa”, afirma Edina. 

SOCIEDADE
As amigas Cintia Bueno, 24 anos e Gleice Quiroz, 24 anos, de Apucarana, começaram a vender doces para participarem das viagens acadêmicas para América Latina, promovidas todo ano pela universidade onde elas estudam. “Para conseguirmos o dinheiro pensamos em começar a vender brigadeiro por ser um produto simples, uma vez que não temos muito tempo por conta dos estudos e trabalho e que a maioria das pessoas gostam. Como nossa meta foi alcançada para viajar, resolvemos continuar com as vendas não só na universidade, mas em festas realizadas pela atlética e algumas encomendas também”, conta Cintia. 
Todo o lucro é usado para gastos na universidade e também para participar de eventos. “As vantagens de ser autônomo é que você tem a liberdade de escolher os produtos, de organizar as ideias e estabelecer sua própria rotina”, conta. 

Economista avalia impactos da formalidade
A economista e professora da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), Paula Carneiro, observa que as consequências desta sobrevivência no mercado de trabalho são devastadoras para o estado e para o trabalhador. 
“Dentre muitos pontos negativos, podemos apontar a fragilidade jurídica dos contratos e a ausência de vínculos empregatícios, deixando de contribuir para a Previdência e de possuir benefícios que são de direito do trabalhador formal, como férias e décimo terceiro”, analisa. 
Ela afirma que o mercado de trabalho informal cresce a uma taxa sustentável sem sinais de recuo. “Nas crises de 2003 e 2008 também tivemos taxas crescentes de informalidade que aos poucos foram transformando-se em empregos de carteira assinada, mas nesta crise, as taxas não apresentam um quadro de involução e eliminou-se muitos postos de trabalho”, avalia.