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Crise na Venezuela preocupa imigrantes em Arapongas

CINDY ANNIELLI

| Edição de 03 de março de 2019 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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A crise na Venezuela causou um verdadeiro colapso econômico e político no país, que tem enfrentado um êxodo da população por conta da pobreza, hiperinflação, falta de serviços públicos e escassez de itens de primeira necessidade. Com o fechamento das fronteiras, aumenta a apreensão de quem saiu de lá em busca de melhores condições, mas deixou familiares para trás. Caso de Edwin José Esculpi, 34 anos, está no Brasil há mais de um ano, sendo quatro meses em Arapongas. Formado em administração de empresas, ele deixou os pais, seis irmãos e três filhos em Caracas.

Atualmente ele trabalha como repositor de bebidas em um supermercado de Arapongas e todo mês destina parte do salário aos familiares que ficaram na Venezuela. “Meus pais apoiam o governo de  Nicolás Maduro. Eles confiam que a situação vai melhorar e não querem deixar o país”, diz. 
Esculpi conta que trabalhou seis anos para o governo de Maduro, mas passou a sofrer com as condições políticas e sociais que deterioraram a Venezuela. 
“O país está passando por uma situação extremamente difícil. Não tem como comprar comida, pois um quilo de frango vale mais que um salário mínimo. Então decidi sair do meu país, principalmente para ajudar minha família”, conta. 
Edwin mantém contato diariamente com os familiares e diz que, segundo eles, a tensão cresceu ainda mais, depois da possibilidade de uma intervenção internacional. Ele considera temerosas as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que não descarta uma opção militar para tirar o presidente venezuelano do poder. Na opinião de Trump, o Exército da Venezuela deveria apoiar o governo do presidente autoproclamado da Venezuela, o oposicionista Juan Guaidó.
“Sou a favor de uma alternativa pacífica, porque existem muitas pessoas inocentes que apoiam o governo de Maduro. Penso que as pessoas podem resistir e podem ocorrer mortes. A Venezuela é um país pequeno com pouco armamento e é apoiada pela Rússia e China. Isso vai gerar uma terceira guerra mundial”, acredita. 
Apesar de a situação no Brasil ser muito mais favorável, Edwin ainda tem planos de retornar ao seu país de origem. Mas enquanto a situação não muda, ele continuará trabalhando em Arapongas para ajudar a família. 

Médico venezuelano 
defende intervenção militar 

O médico venezuelano José Vicente Perez Gomez, 31 anos, está há cinco anos no Brasil. Ele e a esposa, que também é médica, chegaram em Arapongas por meio do programa Mais Médicos. Devido à crise, outros familiares também migraram e hoje morar com eles. 
Para Gomez, a situação em seu país está caótica e uma intervenção militar estrangeira deve ser considerada. “Acho que a Venezuela não aguenta mais diplomacia. Não tem como tirar o governo de Maduro sem uma intervenção militar. Eu era contra, mas o Exército está com o governo, os militares estão com o governo. Estão tirando presos das cadeias e dando armas. Isso não é segredo para ninguém. Ou encontram uma maneira para tirar esse governo de lá ou se prepare que a fome vai ser muito grande”, analisa. 
Formado há sete anos, Gomez lembra que quando decidiu deixar o país, a situação já estava muito crítica. “Quando me formei, o salário do médico equivalia a quase 5 mil dólares. Hoje em dia, a arrecadação de um médico no ano inteiro não chega a 400 dólares”, comenta.
O médico conta que trabalhou dois anos na Venezuela juntamente com a esposa e não conseguiu comprar um carro. “Aqui no Brasil comprei um carro em três meses. Depois a gente fez a Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras) e acabamos ficando”, diz. 
Gomez fez uma comparação com amigos médicos que ainda trabalham lá. Segundo ele, um plantão de 12 horas vale aproximadamente R$ 700 líquido, lá para o médico receber esse valor tem que trabalhar todos os dias, o ano inteiro. 
“Se algum dia melhorar, tenho interesse de voltar, porque é meu país e meu pai continua morando lá. Mas a princípio vou ficar aqui”, afirma.