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Escolha de padroeira ocorreu na primeira missa de Apucarana

Renan Vallim

| Edição de 09 de fevereiro de 2019 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Quando o bispo de Jacarezinho, Dom Geraldo Sigaud, veio a Apucarana em 1949 para lançar a pedra fundamental do que viria a ser a Catedral Nossa Senhora de Lourdes, ele exigiu que o novo templo fosse construído com a torre mais alta possível, a fim de ficar mais perto dos céus. Repousando no topo da torre está a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira do município e da diocese, que tem seu dia comemorado nesta segunda-feira (11). Mesmo que prédios mais elevados tenham sido construídos ao longo dos anos, poucos na cidade duvidam que a santa continua sendo o ponto mais próximo do infinito celestial.

A silhueta mais icônica de Apucarana foi esculpida por “Ângelo Franco Perez, formado pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, que aqui passou a residir a partir de 1956”, como traz o livro ‘Paróquia Nossa Senhora de Lourdes’, do historiador e jornalista apucaranense Francisco Soares Dias Sobrinho.
Com a ajuda de três auxiliares, Perez esculpiu a imagem da santa em concreto dentro da própria catedral, que depois foi levada ao topo da torre, em várias partes separadas, através de um elevador improvisado. Na época, a população se divertia com piadas dizendo que a santa iria despencar lá do alto. Mais de 60 anos depois, a estátua continua imóvel.

Imagem ilustrativa da imagem Escolha de padroeira ocorreu na primeira missa de Apucarana

ORIGEM
Apesar de consolidada no imaginário dos católicos de Apucarana, Nossa Senhora de Lourdes como padroeira da cidade é fruto do acaso. Em 8 de dezembro de 1937, a primeira missa da localidade recém-fundada seria celebrada onde hoje é a Praça Rui Barbosa. O padre, percebendo não haver nenhuma imagem sacra no altar improvisado, perguntou ao povo se alguém teria alguma.
Coube ao pioneiro José de Oliveira Rosa, português que havia acabado de chegar ao município, emprestar uma gravura emoldurada da sua santa de devoção, trazida da terra-natal. “Depois desta data, ele passou a levar a imagem em todas as missas. Ela ficava no altar e então Nossa Senhora de Lourdes foi se tornando a padroeira da cidade”, conta Áureo de Oliveira Rosa, filho de José, que tem 80 anos.
Ele conta que o pai veio ao Brasil aos 13 anos, em 1918, se instalando no interior de São Paulo. A vinda a Apucarana só aconteceu por recomendação médica: tuberculoso, ele foi aconselhado pelo médico a procurar o clima apucaranense para se curar. Fundamental para o desenvolvimento econômico da cidade, o pioneiro faleceu em 2000, aos 95 anos.
“É uma grande alegria ver que algo que o meu pai fez se manteve até hoje. Ele era muito devoto à Nossa Senhora de Lourdes e esta fé foi perpetuada atravs da padroeira da cidade”, conta Áureo.

LIGAÇÃO
Nossa Senhora de Lourdes une duas cidades separadas geograficamente por cerca de 9 mil quilômetros: Apucarana e Lourdes, no sul da França, onde fica o santuário da santa. “Ela está entre as santas com mais devotos em todo o mundo. O santuário de Lourdes é o terceiro mais visitado no planeta. A quantidade de pessoas em peregrinação naquele lugar, agradecendo por milagres recebidos, é impressionante”, afirma monsenhor Roberto Carrara, pároco da catedral de Apucarana.
Apesar da distância, as duas cidades estarão em sintonia nesta segunda-feira (11), com celebrações ao longo de todo o dia. Em Apucarana, o ponto alto acontece às 19 horas, com a procissão luminosa pelas ruas da região central. “Nossa Senhora de Lourdes é padroeira não apenas de Apucarana, mas de toda a diocese. Por isso, os fiéis de toda a região estão convidados”, afirma padre Carrara.

Santa ‘menos conhecida’ fica na parte de trás da catedral

Poucos sabem, mas existem duas imagens de Nossa Senhora de Lourdes na fachada da catedral. A mais conhecida é a que fica na torre do templo. A outra, quase escondida pelo Centro Comunitário construído posteriormente, fica na parte de trás da igreja.
A instalação da estátua na parte dos fundos catedral foi feita após uma intensa briga entre o pioneiro José de Oliveira Rosa e o pároco da época, Armando Círio, como conta o filho de José, Áureo.
“A igreja de madeira que havia ali antes da construção da catedral tinha a porta principal virada para o leste. Meu pai tinha a loja de frente para a igreja, próximo onde hoje é a cascata. Quando soube que a catedral seria construída virada para o lado contrário, ele se enfureceu, brigando feio como  padre Armando”, conta.
Apesar do sangue quente do português, a construção não foi modificada. “Para agradar o meu pai, colocaram a santa voltada para a loja dele. Mas a porta ficou mesmo para o lado oeste. O padre justificou na época que a mudança era por causa do vento. É uma das poucas catedrais sem a porta voltada para a entrada da cidade”, aponta Áureo.
Poucos anos depois, padre Armando se tornou bispo de Toledo e Arcebispo de Cascavel, falecendo em 2014, aos 98 anos