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'Geada Negra' completa 44 anos nesta quinta; entenda como fenômeno erradicou quase 1 milhão de empregos no Paraná

Aline Andrade

| Edição de 18 de julho de 2019 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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A geada negra de 1975, que assolou as plantações de café de todo o Paraná, ainda está viva na memória de produtores da região. O evento climático que dizimou a principal cultura agrícola do Estado na época completa hoje 44 anos. Os reflexos daquela manhã gelada ecoam ainda hoje na produção da cafeeira do estado.

O agricultor apucaranense Carlos Cesar Bovo era criança na época, mas se lembra em detalhes da geada que assolou a propriedade do pai, que fica próxima ao Contorno Norte, e que atualmente é tocada por ele. “Me lembro que a água não saia nas torneiras, estava tudo congelado. Alguns animais de criação, como as galinhas, morreram e tinha um cheiro forte de folha queimada no ar. Todos os 15 mil pés de café do meu pai estavam queimados, tudo destruído”, lembra.

Bovo conta que foi muito difícil se reerguer na época, mas a família não desistiu do café. “Cortamos todos os pés de café queimados e começamos de novo. Meu pai ainda conseguiu se reerguer com dificuldades. Plantou milho e mamona até conseguir voltar com o café de novo, mas muitos amigos nossos tiveram que vender as propriedades e ir embora, não tinham como continuar. Foi bem difícil, mas conseguimos e estamos aqui na mesma propriedade, até hoje plantando café. Já sou a terceira geração da família que faz isso”, conta.

O engenheiro agrônomo Francisco Barbosa Lima, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), conta que a produção do café, conhecido como “ouro verde” na época, entrou em declínio alguns anos antes da geada negra. “A partir dos anos 60 houve uma evolução muito grande da área do café em todo o Brasil, com cerca de 1,8 milhões de hectares plantados somente no Paraná. Por volta de 1964, o governo Federal passou a incentivar a substituição das plantações de café por grãos, para diversificar as culturas, porque nessa época já havia excesso de produção de café. Havia subsídio do governo para quem queimasse os pés de café e passasse a plantar outras culturas. Com o crescimento das lavouras de soja e o período de preço mais baixo do café, eu costumo dizer que a geada de 1975 foi o golpe de misericórdia na cultura cafeeira”, disse.

O agrônomo conta que, quando a geada negra chegou, a área de cultura do café no Paraná já havia reduzido, mas ainda era grande: cerca de 1,1 milhão de hectares. “Saímos da geada negra com cerca de 700 mil hectares apenas. Foi o fim da monocultura do café em todo o Estado, e até hoje segue o processo de redução gradativa da área do café  por causa dos problemas climáticos, a questão da mecanização das lavouras e dos preços baixos. Hoje em dia é uma cultura muito difícil de se levar adiante”, observa.

Lima afirma que o impacto da geada negra no Paraná foi muito forte na área social em relação a desemprego. “O êxodo rural foi imenso. O café no Paraná e na nossa região era a principal fonte de empregos na época. Em um cálculo aproximado, podemos dizer que a geada de 1975 erradicou cerca de 800 mil empregos diretos e indiretos. Estes trabalhadores tiveram que ir para a cidade e foi nessa época que começaram a surgir os chamados “bóias frias”, que trabalhavam nas entre safras de outras culturas, muitos foram para outros estados como São Paulo e Minas Gerais para voltar a trabalhar em plantações de café”, conta.

Hoje no Paraná, existem cerca de 38 mil hectares com plantações de café, aproximadamente 3% da quantidade existente em 1975, antes da geada negra que entrou para a história.

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