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Operação da FP desarticula esquema que adulterava carne

Renan Vallim

| Edição de 18 de março de 2017 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã de ontem a maior operação da história da corporação. Batizada de ‘Carne Fraca’, a operação desarticulou uma suposta organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio. O esquema, segundo a PF era responsável por facilitar a liberação de alimentos vencidos e até adulterados para comercialização. Foram cumpridos 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo em todo o Brasil. Além do Paraná, ordens judiciais também foram cumpridas nos estados de São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás. Entre os envolvidos estão empresários de Apucarana e região. 

Imagem ilustrativa da imagem Operação da FP desarticula esquema que adulterava carne

Foram investigadas grandes empresas do setor, como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e também a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre outras marcas. Elas negam a adulteração Frigoríficos menores também foram investigados. A Justiça do Paraná bloqueou R$ 1 bilhão das empresas investigadas.
A operação detectou, em quase dois anos de investigação, que as Superintendências Regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam diretamente para proteger grupos empresariais.
De acordo com a Polícia Federal, os agentes públicos, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva. Gravações telefônicas apontam que vários frigoríficos do país vendiam carne vencida tanto no mercado interno, quanto para exportação.
Ainda segundo a PF, os frigoríficos investigados usavam produtos químicos para “maquiar” carne vencida, injetavam água para aumentar o peso dos produtos e, em alguns casos, foi constatada ainda falta de proteína na carne. A RBS, a BRF e a Central de Carnes Paranaense emitiram notas negando qualquer problema em seus produtos.
De acordo com a Polícia Federal, até mesmo a merenda escolar de estudantes da rede estadual do Paraná recebeu carne adulterada. Os estudantes comeram salsicha de peru, na prática, sem carne, com substituição por proteína de soja, fécula de mandioca e carne de frango.
Já em uma das conversas gravadas pela PF divulgadas ontem, empresários discutiam a utilização de carne de cabeça de porco na fabricação de linguiças, o que é proibido por lei. Segundo a PF, em outro esquema, era acrescido ácido ascórbico à carne vencida para mascarar a aparência.
MINISTRO
Até mesmo o ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), apareceu em conversa gravada pela Polícia Federal durante as investigações. Em uma ligação grampeada, Serraglio chama de “grande chefe” um dos líderes do suposto esquema, o ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) Daniel Gonçalves Filho. Delegados da Polícia Federal não acreditam que ele tenha cometido algum crime no caso, mas as informações serão repassadas à Procuradoria-Geral da República.
O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, anunciou que 33 servidores da pasta foram afastados por envolvimento no esquema apurado pela ‘Operação Carne Fraca’. Novacki disse ainda que, embora a carne brasileira esteja presente em cerca de 150 países, há "receio" de fechamento dos mercados dos Estados Unidos e da União Europeia e, diante disso, o governo definiu argumentos "mais que contundentes" para rebater "qualquer tipo de suposição" sobre a qualidade da carne.

Empresários da região são citados na investigação
Cinco empresários da região apareceram na lista de supostos envolvidos no caso. De Apucarana, os empresários Nilson Alves Ribeiro e Nilson Umberto Saccheli Ribeiro tiveram prisões preventivas decretadas. Orestes Alvares Soldorio e José Nilson Sacchelli Ribeiro foram levados mediante condução coercitiva, quando a pessoa é encaminhada para ser interrogada e liberada em seguida. Orestes era o arrendatário do Frigorífico Oregon, unidade de abate de bovinos e equinos, cujas atividades foram encerradas no ano passado.
De Arapongas, um dos proprietários da Frango a Gosto e da Unifrango, Domingos Martins, também foi levado em condução coercitiva para interrogatório. Martins é presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar).
A defesa do empresário Nilson Alves Ribeiro, que está morando na Itália, afirmou ontem que o empresário está surpreso com a inclusão do seu nome e dos seus filhos Nilson Umberto Saccheli Ribeiro e José Nilson Sacchelli Ribeiro na operação da Polícia Federal. A defesa nega veementemente qualquer envolvimento no suposto esquema de venda de carne estragada para o mercado interno e externo.
Segundo a defesa do empresário, a família não é responsável pelo frigorífico Oregon em Apucarana, que foi arrendado para o empresário Orestes Alvares Soldorio, também citado na investigação, sendo apenas dona das instalações industriais e do imóvel. A defesa diz ainda que a família não tem nenhum controle ou interferência na produção do frigorífico e quem deve responder por isso é o arrendatário. Os defensores acrescentaram ainda que o empresário acredita na Justiça e que espera que seu pedido de prisão preventiva, assim como do filho Nilson Umberto Saccheli Ribeiro, seja revogado nas próximas horas "por absoluta inocência".
A reportagem tentou entrar em contato com representantes de Domingos Martins na empresa Frango a Gosto, mas nenhum funcionário quis se manifestar ou apontou os advogados de defesa do empresário. Já Orestes Alvares Soldorio não foi encontrado.