ROGÉRIO RIBEIRO

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Saltando aos olhos

Da Redação

| Edição de 28 de fevereiro de 2023 | Atualizado em 28 de fevereiro de 2023

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As discussões recentes sobre decisões de política econômica em nosso país se resumiram no embate acerca dos juros elevados mantidos pelo Banco Central do Brasil e pela volta (ou não) da tributação federal sobre os combustíveis. Há opiniões para todos os gostos e preferências e podemos afirmar que, a depender dos argumentos, todos estão corretos.

A análise dos eventos deve estar fundamentada na teoria econômica que sofre influência doutrinária. Todas as opiniões podem ser acolhidas por uma ou outra teoria econômica. Com dizem: “vai pelo gosto do freguês” ou do analista de plantão. Por conta disto é natural a existência de divergências entre a ala técnica e a ala política do governo ou mesmo dentre os técnicos.

Na questão dos juros o entendimento é muito simples: o Banco Central tem como objetivo manter a inflação dentro do intervalo da meta e para isto deve utilizar o nível de juros básico da economia. Quando a tendência de inflação está em alta, aumentam os juros e vice-versa. É uma análise fria e objetiva. Nesta análise não estão focando a inflação deste ano, mas sim a inflação do próximo ano. 

A inflação deste ano vai ficar acima do intervalo da meta, não tem muito o que fazer. Por conta disto as decisões acerca dos juros estão mirando a inflação de 2024. Como a expectativa está muito próxima do teto da meta o Banco Central mantém os juros elevados para “forçar” a inflação futura a diminuir. Não estão errados se considerarmos o sistema de metas de inflação que está consagrado mundialmente desde o início da década de 1990.

A “bronca” do presidente Lula e da ala política do governo é que juros altos diminuem o investimento e o consumo das famílias e, no conjunto, diminuem o ritmo de crescimento da economia. Paralelamente a isto, com juros maiores o serviço da dívida aumenta, o governo paga mais juros e o déficit nas contas públicas tende a ser maior, podendo gerar um cenário de irresponsabilidade fiscal.

Para solucionar esta questão a solução simples e prática sugerida é aumentar a meta de inflação. Assim o Banco Central pode diminuir os juros, diminui o ritmo de rolagem da dívida e o governo tem um fôlego para gastar além do que arrecada. É uma solução que tem respaldo da teoria econômica.

No caso da reoneração dos combustíveis a ala política receia a repercussão negativa, uma vez que os preços subirão muito e a população já está sofrendo muito com a inflação vigente. Isto pode gerar uma redução na popularidade do governo Lula e muitas manifestações contrárias, além de dar argumentos para a oposição. A ala técnica defende a volta dos impostos para aumentar a arrecadação e reduzir o déficit projetado nas contas públicas, dando mais respaldo para a gastança desenfreada do governo.

Os argumentos dos dois lados possuem respaldos na teoria econômica, mas existem outras alternativas que também possuem o mesmo respaldo. Se o governo teme a redução do crescimento com os juros elevados assim como teme um aumento da inflação e queda na popularidade do governo por causa da volta dos impostos sobre os combustíveis é possível encontrar outras ferramentas de política econômica para solucionar esta complexa equação econômica.

Aqui mesmo, neste espaço, já foi comentado sobre isto: o governo precisa se reinventar. Precisa melhorar a qualidade do gasto público, que é ineficiente e ineficaz. Há despesas que podem ser reduzidas e há a necessidade de se fazer uma profunda reforma administrativa. A solução está saltando aos olhos do governo, mas parece que eles não querem enxergar.