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Onde sobra violência, falta empatia

Por padre Lino Batista de Oliveira, professor doutor da Facnopar, PUC-PR e IFA, e pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima em Apucarana

| Edição de 13 de abril de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Em nossa sociedade a violência se apresenta de diversas formas: a guerra, a revolução, o terrorismo, o genocídio, o assassinato, o crime organizado, a violência urbana, a violência contra a criança, contra o adolescente, contra a mulher; o estupro, o assédio sexual, o bullying, o vandalismo, o racismo, o virtual e a corrupção.

O Atlas 2017, sobre a violência no Brasil, mostra-nos um retrato atualizado do que estamos vivendo. Muitos dados poderiam ser trazidos, mas me restrinjo a alguns, são eles: mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. Apenas em 2015, foram 31.264 homicídios de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência. 
Um elemento que pode nos ajudar na busca por uma sociedade menos intolerante é a ideia da empatia, pois acredito, como escreveu a educadora Rosely Saião em um dos seus artigos na Folha de São Paulo, que se fôssemos mais empáticos, talvez as coisas pudessem ser diferentes, afinal de contas, empatia significa se colocar no lugar do outro. Há uma grande preocupação global com a nossa atual ausência de empatia e a certeza de que a sua falta contribui, e muito, para nos fazermos violentos. 
Um sinal disso foi a inauguração, em Londres, do primeiro Museu da Empatia. Nele, os visitantes são convocados a experimentar/enxergar o mundo pelo olhar de um outro – não próximo ou conhecido, mas um outro com quem eles não têm qualquer relação. A expressão que deu sentido ao museu é a inglesa “in your shoes” (em seus sapatos), que em língua portuguesa significa “em seu lugar”. Os visitantes se deparam, na entrada, com uma caixa com diferentes pares de sapatos usados. Escolhem um de seu número para calçar e recebem um áudio que conta uma parte da história da pessoa que foi dona daquele par. Dessa maneira, contribui-se para que a virtude da empatia possa ser desenvolvida. 
A conclusão a que poderíamos chegar, como nos ensina Rosely Saião, é a de que muitas das nossas atitudes violentas, “bárbaras”, ocorrem pela falta de empatia. Dessa forma, estacionar o carro em vaga de idosos, grávidas e portadores de deficiência, na Praça da Catedral em Apucarana, é mais do que contravenção: é falta de empatia. Reclamar da lentidão dos velhos é mais do que desrespeito: é falta de empatia. Agredir ostensivamente o outro por suas posições é mais do que dificuldade em lidar com as diferenças: é falta de empatia.