OPINIÃO

min de leitura - #

​ Saúde mental

Por Antonio Miguel, psicólogo clínico em Apucarana

| Edição de 18 de janeiro de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

Fique por dentro do que acontece em Apucarana, Arapongas e região, assine a Tribuna do Norte.

Dia desses li esse ditado de origem ibérica que diz “Mal que não tem cura, chama-se loucura”, e me coloquei a pensar que o mês de janeiro é dedicado a ações de promoção da saúde mental e que não por acaso foram escolhidos este mês e a cor branca para essa mobilização. 

Janeiro é o mês que depois de um ano corrido, preocupante de muita pressão, principalmente no final do ano, tira-se para fazer um planejamento para a sequência seguinte dos outros onze meses; é a parada necessária para colocar na balança o que realmente nos serviu para alentar a vida no ano que se foi e o que nós dilacerou e então podemos deixar para trás e começar uma nova forma de ver as vivências essenciais para a nossa felicidade. 
Já a cor branca vem na esteira desse pensamento, pois é a partir de um alvejar de nossa alma, de uma folha branca podemos editar e reescrever nossa maior obra, ou seja, a nossa vida. Sendo um convite e um ponto de partida para uma vida criativa. Entretanto, não se pode notar nem por parte da população em geral ou das instituições, quer públicas ou privadas, qualquer ação no sentido de preservação de nossa sanidade mental e temos até a ilusão que vivemos em um oásis de calmaria e bem estar, um verdadeiro faz de conta. 
A reflexão a ser feita é: O que se entende por loucura? Ou ainda poderíamos nos questionar o que vem ser a saúde? Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), estar saudável é mais do que estar livre de doenças. A organização criou um conceito de que “a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” e mais recentemente foram incluídos nessa lista, pelos especialistas em saúde mental, outros requisitos dessas plenitudes como, por exemplo, a ecológica e a espiritualidade. 
E eu que sempre fugi, como um cavalo louco, de generalizações como esta de completude; e usando o velho método socrático me questiono será que isso é possível? Estar isento de qualquer mal que nos aflija principalmente em uma sociedade como a que vivemos hoje? 
A questão da saúde mental não pode ser tratada como uma gripe, onde se toma um remédio para combater os sintomas a se espera o vírus ir embora. É muito mais profunda, pois é na verdade uma construção do dia a dia do sujeito é uma busca constante do equilíbrio entre o que é ser são e a insanidade. A julgar pela resistência que a população em geral tem em procurar uma ajuda profissional de um psicólogo para tratar de suas questões como o medo, angústias, distúrbios de humor, lutos, ansiedades, o estresse etc., pode-se concluir que na lista de prioridades essa é uma temática quase que relegada ao último recurso e então quando se dispõe fazê-lo, muitas vezes, apelam erroneamente a profissionais (ou não tão profissional assim) que simulam terapias mirabolantes de uma rapidez quase que estrondante que só enredam o cidadão ainda mais nos seus desatinos. 
Devemos admitir que uma grande parcela da culpa dessa desinformação a respeito da profissão do psicólogo cabe a eles mesmos que não se organizam para transmitir a sociedade a que se veio essa profissão. No imaginário popular é um profissional que se procura somente quando o mal não tem cura e se chama loucura. Mas, será que podemos pensar que existem técnicas desenvolvidas pela ciência para a prevenção dessas doenças ditas mentais? Se nos sujeitamos a tomar vacinas para prevenir doenças que podem nos matar, porque não nos “vacinamos” contra esse mal que igualmente e silenciosamente são a causa e disparam tantos outros males e moléstias.
Se em cada posto de saúde, ou escola, ou hospital, ou empresa, houvesse um serviço disponível e acessível à população em geral para que pudesse prevenir esses males, com toda a certeza não existira tanta gente fazendo uso de antidepressivos e outras drogas da “felicidade” e o numero de suicídios cairia muito. 
Trata-se o adoecimento da saúde mental da população de uma forma a mantê-la sempre sob controle, para que possa ser subservientes as benesses do poder, seja ele vindo dos nossos governantes, das igrejas ou ainda vindo do privado como, por exemplo, a indústria da medicalização. 
E em um último pensamento que “a quem está são, a água é cura” podemos refletir e recorrer, mais uma vez, ao nosso mestre filósofo ao questionamento de: A quem interessa o nosso descontrole mental?