OPINIÃO

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​ A vida não termina aqui

Por padre Ezequiel Dal Pozzo, de Caxias do Sul (RS)

| Edição de 16 de outubro de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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A fé cristã crê que a vida não se reduz a este mundo. Quando morrermos não acaba tudo. O nosso Deus é o Deus da Promessa e do cumprimento da promessa. Como o mundo é criado e recriado constantemente, Deus continua se revelando. Se mostrou plenamente em Jesus. Mas isso não esgotou a manifestação de Deus. O acesso que temos ao Filho também não é absolutamente completo. Sabemos que Jesus nasceu, foi morto e ressuscitou. Mas teremos acesso completo a tudo isso somente no encontro final com Ele. Até agora o nosso acesso é sempre limitado, porque estamos na história e nós mesmos somos e estamos limitados ao tempo e ao espaço. Por isso, Deus se mostrou, mas Ele é uma realidade que está sempre além. É muito mais do que captamos Dele. Ele está a nossa frente como promessa de amor. 

Somos convidados a olhar para o horizonte. E o horizonte está sempre à frente. Podemos ver, mas não agarrá-lo. Ele se mostra, mas não se deixa prender. Está sempre além daquilo que podemos alcançar. Ele é o término do caminho. Contemplando-o toco o céu no ponto mais distante que o meu olhar alcança. Por um lado, parece estar longe. Ainda não o toco, está além. Por outro lado, está ali e me parece muito próximo, porque está sempre a minha frente, abrindo caminho. 
Pela fé nós caminhamos para a ressurreição. Esperamos o novo céu e a nova terra, a vida eterna. Experimentamos a vida com a realidade que a ultrapassa. Não pode tudo terminar aqui. Na encarnação de Jesus experimentamos a força do amor que pede eternidade. O amor é a força que ultrapassa a morte. A morte não consegue destruir a realidade do amor. 
Em Cristo Ressuscitado a vida eterna já começou. Vós morrestes com Cristo, ressuscitastes e subistes ao céu com ele (cf. Rm 6, 8). Contudo, a realidade da vida eterna permanece sempre misteriosa para o coração humano. Faz bem acreditar. Encarar a morte como passagem para a plenitude é um conforto muito grande. Perante o futuro eterno somos como crianças no ventre materno. Sentimos calor e frio, conforto e desconforto, mas não temos ideia do que será esse mundo. 
Acreditamos na promessa de que “Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28). Percebemos ou sentimos que a eternidade não pode ser realidade fora da misericórdia. O amor aspira à eternidade. O filósofo Gabriel Marcel dizia que quando declaro a alguém que o amo, estou dizendo que ele nunca morrerá para mim. O amor não só aspira por eternidade, mas cria a eternidade. A eternidade é fruto do diálogo que estabeleço com o Criador que é o doador do amor. Não é o ser humano que se torna indestrutível. O ser humano permanece em diálogo contínuo de amor com o seu criador, na medida em que responde a seu amor. Essa resposta se expressa na fraternidade, no perdão, na compaixão, na ternura, na bondade que o ser humano manifesta na sua vida. Dali brota o sentido da vida. Nisso se percebe que o amor é acolhido. Esse amor é a possibilidade de experimentarmos agora, neste mundo, em pequenas doses, o que nos espera no futuro. Pense nisso!