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Alunos driblam deficiência por diploma

Vanuza Borges

| Edição de 07 de agosto de 2016 | Atualizado em 02 de dezembro de 2016

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Elson Nunes Vieira, 49 anos, e Cintia Cristina Tavares, 24, chamam a atenção quando passam pelo campus da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), de Apucarana. Ela, deficiente visual deste a infância, estuda o segundo semestre de Letras e Inglês; ele, que perdeu a visão após uma falha cirúrgica, está no segundo ano de Pedagogia. Em comum, os dois rompem barreiras diariamente em busca do sonho de um diploma universitário.

Imagem ilustrativa da imagem Alunos driblam deficiência por diploma

A jovem, que mora na Água da Jacucaca, zona rural de Califórnia, conta com a dedicação dos pais Ivonete e Valdir Tavares, que a incentivam buscar a sua autonomia. Diagnosticada deficiente visual com um ano de idade, a família, dentro de suas possibilidades, garante que sempre procurou meios para que Cintia se desenvolvesse. Ela já frequentou o Instituto dos Cegos, em Apucarana, por dois meses e contou com o apoio da Escola Municipal Califórnia e Colégio Estadual Talita Bresolin, onde concluiu o Ensino Fundamental e Médio. “Ela é muito dedicada e totalmente independente em casa”, garante a mãe.

Porém, antes de atender o desejo da filha, Ivonete visitou o campus para se certificar se ela estaria segura. Para chegar a universidade, Cintia conta com o apoio do pai, que todos os dias a leva até o centro de Califórnia para pegar ônibus do transporte escolar. Porém, ela precisa também da colaboração constante dos alunos, porque ainda tem dificuldades em usar a bengala. De volta para sua cidade, por volta das 23 horas, ela fica na casa da tia, Fernanda Eli de Moraes Tavares, outra incentivadora da jovem. “É uma menina muito esperta, dedicada, e cheia de disposição”, descreve a tia.

Às seis da manhã, pega um novo ônibus para voltar para casa no sítio. Apesar de parecer uma rotina cansativa, a estudante garante que vale a pena: “Sempre gostei de estudar”, assegura. Ela sonha em ser professora do Ensino Médio. “Depois que eu terminar a faculdade, quero lecionar”, revela. Para isso, ela conta, além do empenho dos professores que tiveram que adaptar as aulas e os materiais, com os colegas de sala. “Em diversas situações, eles leem para mim”, conta.

Para acompanhar a turma, ela usa um gravador, um notebook, quem tem um programa específico para deficientes visuais e também uma máquina de escrever em braile, que é emprestada do Colégio Talita Bresolin, que ajuda a transcrever o material do curso para o Braile. Parte dos conteúdos e, inclusive, as provas são traduzidas pelo Instituto dos Cegos de Maringá. “Ela tem que seguir em frente, porque tem a possibilidade de ser alguém um dia”, diz a mãe. Já a colega de sala e parceira de trabalhos, Daiane Grigoletto, 32, ressalta a força de vontade de Cintia. “Tem dificuldades, mas é muito interessada. Um exemplo para nós”, define.

ADAPTAÇÃO

Diferente de Cintia, Elson, após superar a perda da visão, buscou intensamente meios para se tornar independente. Sentindo protegido demais pelos familiares, ele resolveu morar sozinho para se desenvolver. Fez cursos no Instituto dos Cegos de Curitiba, local onde morava quando perdeu a visão em 2005, o que deu segurança para se locomover sozinho, inclusive viaja para vários lugares sem acompanhantes. E aprendeu a usar o computar de forma admirável, o que tornou hoje sua principal ferramenta de estudo hoje. “Eu me sinto cada dia mais preparado para ser um professor amanhã. Quero trabalhar com Educação Especial, porque é uma área carente de profissionais especializados”, diz.

Na avaliação de Elson, os deficientes visuais têm capacidade sim de fazer um curso superior. “Tem que se dedicar. Eu busquei recursos para continuar vivendo, precisei me renovar”, afirma.