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Aposentados somam 21% da população

Vanuza Borges

| Edição de 19 de março de 2017 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Quase 100 mil pessoas na região, ou uma em cada cinco, é aposentada. O dado, obtido a partir de publicação da Previdência Social, evidencia a importância dessa população para a administração pública e também para a economia dos 26 municípios do Vale do Ivaí mais Arapongas, sobretudo em tempos de discussão da reforma da Previdência. Eles movimentam todos os meses mais de R$ 96 milhões. A cidade ‘campeã’ de aposentados é São João do Ivaí, onde quase 40% da população recebe algum benefício da Previdência.

Imagem ilustrativa da imagem  Aposentados somam 21% da população


Os dados correspondem ao mês de dezembro de 2016. De acordo com a Previdência Social, a região possui 96.950 aposentados, o que corresponde a cerca de 21,4% do total de moradores dessas 27 cidades. A cidade com maior número de aposentados é Apucarana: são 25,4 mil pessoas nesta situação, ou 19,5% do total de moradores. Em seguida vem Arapongas, com 20,1 mil aposentados (17,5% da população total).
No entanto, a cidade que possui o maior número de beneficiários em relação à população é São João do Ivaí. O município com cerca de 11,2 mil habitantes tem 39,8% da sua população aposentada. Esse índice corresponde a mais de 4,4 mil aposentados. A cada cinco moradores da cidade, dois são aposentados.
Em seguida aparecem as cidades de Jardim Alegre e Ivaiporã, que têm um terço da população recebendo benefícios. Em Jardim Alegre são 4 mil benefícios concedidos por mês, correspondendo a 33,3% dos 12,2 mil moradores da cidade. Já em Ivaiporã, que tem população de 32,7 mil cidadãos, cerca de 32,1% é aposentada, o que representa 10,5 mil pessoas.

DINHEIRO
Os aposentados pela Previdência Social na região movimentam R$ 96 milhões todos os meses. Na média regional, cada aposentado recebe R$ 990,37 por mês de aposentadoria. A cidade que mais recebe benefícios é Apucarana, com pouco mais de R$ 27 milhões mensalmente. Cada aposentado da cidade recebe, em média, R$ 1.065,15. Em Arapongas, os benefícios somam quase R$ 21,3 milhões, sendo que cada aposentado recebe
R$ 1.052,93 em média.
Em Ivaiporã, os repasses somam quase R$ 10,1 milhões. A média do valor do benefício é de R$ 959,71. É importante destacar que, das 27 cidades pesquisadas, a média do repasse ficou abaixo do salário mínimo nacional (R$ 937) em 21 delas.

Impacto é maior
em setores básicos
Os R$ 96 milhões que os aposentados injetam na economia regional todos os meses representam um impacto significativo na economia, de acordo com o economista Marcelo Vargas, professor do campus de Apucarana da Universidade Estadual do Paraná (Unespar). No entanto, segundo ele, esse impacto é gerado quase que totalmente nos setores mais básicos, como alimentação, transporte e saúde.
“Esses R$ 96 milhões são uma quantia considerável. No entanto, se for levado em consideração a média paga a cada um dos beneficiários, vemos que o valor fica próximo do salário mínimo. É um valor baixo, que limita a maioria dos aposentados a consumir apenas produtos mais básicos. Isso provoca um outro fenômeno, que é o de aposentados voltando ao mercado de trabalho para complementar a renda”, afirma Vargas.
Segundo ele, o índice de aposentados deve aumentar nos próximos anos. “A tendência é que a parcela da população que é aposentada cresça, já que os idosos estão vivendo mais e as pessoas estão tendo menos filhos. Essa tendência é ainda mais forte nas cidades pequenas, pois os jovens estão migrando para cidades maiores cada vez mais, em busca de novas oportunidades”, diz.
O economista evitou falar sobre o impacto da reforma da Previdência para a economia das cidades. Segundo ele, é difícil prever como a economia vai se comportar com menos pessoas se aposentando mas, em contrapartida, mais pessoas no mercado de trabalho.

Benefícios movimentam economia dos municípios
Aposentados garantem
movimento em
farmácias e mercados
A renda dos idosos deixou de ser importante apenas para a sobrevivência das famílias dos aposentados e reflete diretamente no comércio. Os segmentos que mais se beneficiam dessa parcela de público são as lojas de produtos básicos, como padarias, farmácias, feiras e mercados, principalmente nas pequenas cidades.
João Ribeiro, dono de um mercado em Jardim Alegre, destaca a importância dos aposentados para a economia local. “Hoje as pequenas cidades dependem dessa renda dos aposentados, principalmente em razão do desemprego. No passado, nós tínhamos muito movimento do povo da roça, dos boias-frias, diaristas, praticamente isso não existe mais”, comenta o comerciante.
Para Ribeiro, o número grande de aposentados também se deve a tranquilidade e a segurança das pequenas cidades. “Todos os anos a gente vê chegar pessoas que, pela dificuldade de emprego, foram trabalhar fora. Mas, quando se aposentam, voltam a morar aqui”, assinala.
Miriam Dias Leão, sócia-proprietária de um mercado em Ivaiporã, relata que, de cada 10 clientes, quatro são aposentados ou pensionistas. “O que está salvando o comércio é o aposentado. Ainda mais com essa crise. Se não fossem eles, estaria tudo mais difícil. É um dinheiro certo, todos os meses eles compram. À época do recebimento da aposentadoria, eles vêm pagam e começam uma nova conta.”, comenta Miriam.
Apesar da importância que têm para a economia de várias cidades, a maioria dos aposentados se sentem insatisfeitos e desvalorizados, principalmente pelo INSS. O servidor público municipal aposentado de Ivaiporã, Dilson Ferreira da Silva, 75 anos, diz que é injusto o que o governo faz com os aposentados. “Quando me aposentei, há 16 anos, ganhava três salários mínimos e meio. Hoje, o que recebo é menos de um salário e meio. É muito difícil alguém falar que está contente”, destaca.
O agricultor aposentado por invalidez José Antônio de Oliveira, 66 anos, ganha um salário mínimo desde que se aposentou, há quatro anos. Para poder complementar a aposentadoria ele negocia relógios usados com os amigos. “Tive três derrames e um infarto. Tomo muitos remédios e o dinheiro não dá. O dinheiro da venda de relógios ajuda nas despesas”, explica Oliveira.
A costureira aposentada de Jardim Alegre, Deusana Morais do Amaral, 84 anos, recebe um salário mínimo do INSS. Com o dinheiro que recebe, ela ainda ajuda um filho com problemas de saúde ue mora com ela. “O que me ajuda é que na época que eu trabalhava comprei umas casas e hoje recebo aluguel. Senão seria muito difícil sobreviver”, assinala.
(IVAN MALDONADO)