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Cinco dias no meio do caos

Da Redação

| Edição de 09 de fevereiro de 2019 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022
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Após o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, Minas Gerais, no dia 25 de janeiro, bombeiros, socorristas e profissionais da área de saúde assumiram o papel central na busca por desaparecidos e no resgate de vítimas. A dedicação desses profissionais chamou atenção de todo o País. Entre eles, estavam dois araponguenses e um maringaense, que passaram cinco dias trabalhando nas buscas na cidade mineira. Uma experiência de vida e também uma lição de solidariedade.

 O condutor socorrista Rogério Pires Fernandes e o enfermeiro Adriano Porfirio Piza, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Arapongas, e o técnico em enfermagem Victor Hugo Pereira da Cruz, de uma empresa de Maringá, ficaram na cidade mineira entre os dias 27 e 31 de janeiro. Esse período foi suficiente para que episódios marcassem o resto de suas vidas. “Você percebe que seus problemas ficam pequenos perto do que aquelas pessoas estão passando. A gente acaba se colocando no lugar daquelas famílias que vivem ali. É algo muito triste”, conta Rogério.
A equipe se deslocou de Arapongas com um veículo de intervenção rápida cedido pela prefeitura de arapongas, com barracas, equipamentos de salvamento em altura, óculos de ampla visão, luvas, capas de aproximação, cintos para trabalho em altura, botas e macacão. “Nossos pernoites eram feitos em um local conhecido por Estação do Saber, disponibilizado pela empresa Vale para atender as famílias e os voluntários de outras cidades. Neste local era fornecido aos cadastrados, banho, alimentação, lanche para as buscas e água”, explica o condutor socorrista.

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Para Rogério, os momentos mais marcantes e emocionantes da operação eram quando encontravam objetos, principalmente de crianças, no meio da lama. “Em um dia das buscas, encontrei a cartinha de uma criança que dizia que seu maior sonho era morar em Fortaleza, no Ceará. Porém, ela escreveu que tinha medo porque via nos noticiários que a cidade era perigosa e tinha terroristas. Mal ela sabia que o maior perigo de sua vida estava na porta de sua casa”, lamenta.
Rogério revelou um método utilizado neste tipo de busca por sobreviventes. “Durante a caminhada utilizávamos uma estaca de madeira para perfurar o solo e, se caso subisse algum tipo de odor, podíamos identificar se haviam corpos de pessoas ou animais no local. Essa era quase a única forma mais fácil de diferenciar a lama do restante que foi destruído e estava enterrado. É muita lama, tem lugar com mais de 12 metros de barro”, recorda.
Victor, companheiro de jornada de Rogério, em Brumadinho, diz que apesar dos anos de experiência, é complicado descrever o que foi visto nos dias de trabalho na cidade mineira. “Foi uma experiência muito triste e, por isso, fica até difícil descrever o que vivemos nos cinco dias que ficamos por lá. São família, sonhos e casas destruídos”, lamenta.


Além da busca por sobreviventes no meio da tragédia, segundo Victor, os socorristas também prestaram atendimento clínico para diabéticos, hipertensos e pessoas que estavam passando por crises nervosas. Em meio à tragédia, a garra das pessoas marcou a jornada de Victor em Brumadinho. “Estávamos lidando com pessoas que perderam quatro ou cinco pessoas da família. E, mesmo assim, elas coloravam nas buscas todo o tempo. A vontade de vencer daquelas pessoas me motivou muito”, conta.

Número de mortos chega a 157, aponta Defesa Civil
A Defesa Civil de Minas Gerais informou na última sexta-feira (09) que subiu para 157 o número de mortes confirmadas em consequência do rompimento da barragem de rejeitos da mina Córrego do Feijão, há cerca de duas semanas, em Brumadinho (MG).
Deste total, foram identificadas 134 vítimas. As equipes ainda buscam 182 desparecidos. Segundo a Defesa Civil, entre os não localizados, 55 são da equipe da Vale, proprietária da mina, e os demais (127) são moradores e turistas que estavam nos arredores da barragem rompida.
Já os localizados totalizaram 393. Destes, 294 são classificados pela Defesa Civil como encontrados da lista da mineradora e 169 de moradores da comunidade. O balanço da Defesa Civil ainda registra a existência de 133 desabrigados, que foram retirados de suas casas, que apresentavam riscos ou foram destruídas, tendo sido levados a hotéis. Três pessoas ainda estão hospitalizadas