OPINIÃO

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Credibilidade ameaçada ou extinta?

Por João Luiz Calegari, professor de Filosofia do Estado do Paraná

| Edição de 02 de abril de 2020 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Pretende-se recuperar a credibilidade nas autoridades púbicas? Deve-se reconstruir a crença nas ciências e nos dados científicos? Nas informações midiáticas, ao fazer uso de novas tecnologias? Qual o comprometimento destes com o sofrimento e a solidariedade dos sofredores da pandemia do coronavírus?
Eram esperados os reflexos e comportamentos de irresponsáveis políticos, corroídos por anos, no exercício do poder nas várias esferas representativas, com atribuições decisivas e que levaram o caminho da descrença e consequentemente, o cinismo e desprezo dos cidadãos com a política. Essas realidades não serão recuperadas do dia para noite, mas estes não são tempos de “normalidades”. Os pensamentos podem mudar rapidamente com medo da extinção humana. 
Sabemos que o “conhecimento é a luz dos povos” e, eis que na eminência da pandemia, algumas autoridades foram alertadas sobre a tragédia, no entanto, ignoram os pesquisadores e pesquisadoras. A humanidade já superou outras calamidades. Vamos passar por mais essa com as pesquisas, a ciência comprovada e humildade. Mudaremos nosso comportamento. Até o século XIX, não havia higienização das mãos, fato comprovado e demonstrado historicamente. Ações preventivas foram relevantes e trouxeram progressos no cuidado com a saúde. 
Quais as consequências de nossas ações com o uso das tecnologias midiáticas, a exemplo dos inúmeros fakes news, sem uso de parâmetros éticos, numa era digital que nos transformaram em escravos sem estratégia organizada de uma nação? As tecnologias são imaturas e até arriscadas e são implantadas porque os riscos de deixar de fazê-las são maiores. Países inteiros parecem cobaias em experiências sociais. Vamos trabalhar em casa e nos comunicarmos virtualmente? Seremos vigiados com tornozeleiras eletrônicas, um chip sob a pele, estar monitorado com excelentes informações como forma de cuidar da vida humana? Isso é uma utopia? Diante da pandemia, vamos ao supermercado e temos pessoas fazendo aferição da temperatura. E se isso fosse com dados biométricos em massa, poderíamos saber da pressão arterial de todos os indivíduos? Definitivamente com o uso de novas tecnologias teríamos condições de capacitar melhor os cidadãos ou manipular seus sentimentos, vender um produto, um político...
“Nos próximos dias, cada um de nós deve optar por confiar em dados científicos e em especialistas da saúde em detrimento de teorias infundadas de conspiração e de políticos que servem a si mesmos. Se conseguirmos fazer a escolha certa, poderemos manter nossas liberdades mais preciosas – essa é única maneira de proteger nossa saúde de verdade”. Yuval Harari.
Dentro do contexto de uma vida prática, o comprometimento e a solidariedade devem ser com o oprimido, que é com aquele inexistente, como por exemplo, um analfabeto que não se expressa por escrito. Portanto, o ponto de partida é de um sofredor, imerso num plano político real, é um sujeito que busca a libertação; os milhares de desempregados que precisam de uma oportunidade dos empresários, os jovens que buscam o primeiro emprego; os que trabalham dentro de suas condições corporais de sofredor e necessitado. 
Contudo, apesar de ter discussões amargas, a amizade, a confiança em ajudar o outro, buscam recuperar a “certeza” na ciência, nas autoridades públicas e na mídia.