OPINIÃO

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Dando milho aos pombos

Por Rogério Ribeiro, professor e economista em Apucarana

| Edição de 21 de janeiro de 2017 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Tem coisas que acontecem que extrapolam a compreensão do ser humano comum. Coisas que nos discursos de qualquer indivíduo sai afinado e agradando a todos, como se soubessem o que é melhor para si e para os outros. Entretanto quando visualizamos os fatos reais, aquilo que está acontecendo ao nosso redor, nos espantamos com a grande disparidade entre o ideal e o real.

Quando uma pessoa comete um crime sabemos que esta pessoa deve ser punida e, dependendo da gravidade do delito, deverá ser privada de liberdade. Também sabemos que o sistema prisional deverá tratar de ressocializar o infrator para que ele não volte a delinquir, podendo voltar a conviver normalmente entre os demais cidadãos de sua comunidade.

Quando a sociedade escolhe um agente político este deve se dedicar às causas da sua comunidade, deixando de lado os interesses particulares e corporativos. Deve envidar esforços para que a qualidade de vida melhore, reduzindo índices de violência, pobreza e desemprego e aumentando a distribuição da riqueza, emprego, poder aquisitivo, nível educacional e expectativa de vida.

Na verdade seria muito bom se tudo acontecesse desta forma, daí poderíamos ter a tranquilidade e segurança de que o discurso e a prática convergem para os interesses comuns.

Infelizmente na prática a teoria é outra. Com os recentes eventos em presídios brasileiros voltamos a ter a certeza de que os agentes políticos fazem pouco ou quase nada do que é de interesse da sociedade. Até há pouco parece que não existiam problemas no sistema prisional, pois não se falava, não se ouvia e não se planejava nada. Agora prefeitos, governadores e até o Presidente da República e parlamentares de todos os níveis vêm a público atestar a falência do modelo existente sendo que estes não haviam se manifestado sobre o assunto.

Realmente é como o cantor e compositor Zé Geraldo canta em sua música: “isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos”. Na verdade toda a sociedade está “dando milho aos pombos”. Enquanto os agentes políticos “deitam e rolam” com a coisa pública as pessoas comuns ficam sentadas num banco de praça atordoadas, hipnotizadas e ainda crendo nesses indivíduos.

As pessoas devem lançar mão do benefício da dúvida. Devem duvidar que os candidatos irão cumprir com as promessas. Mesmo votando neles devem debater a candidatura e registrar todas as propostas, promessas e discursos dos candidatos e usá-los para cobrar, monitorar e avaliar a gestão do eleito. Não devem esperar que ele seja reeleito ou eleito para outro cargo, pois irá tentar entoar o “canto da sereia” e se perpetuar em cargos eletivos sem nada dar em troca para a sociedade.

Há inúmeros exemplos de falência de sistemas públicos e de políticas públicas que foram concebidas como política de governo e não como política de estado. A sociedade deve exigir que os agentes políticos comecem a desenvolver políticas de estado, que devem passar pelo parlamento e por outras instâncias de discussão com a sociedade.

Isto poderá evitar com que as ações de um gestor sejam deixadas de lado pelo seu sucessor pelo simples fato de não ser do mesmo partido ou grupo político. A sociedade quer, merece e necessita de mais que isto. Necessita de políticas de estado que sejam debatidas democrática e exaustivamente. Assim poderemos reduzir, e muito, problemas como a crise prisional que tomou conta dos noticiários pelo mundo afora. Porém, o gigante continua adormecido. O brasileiro precisa começar a cobrar mais eficiência e efetividade do setor público. Precisa cobrar mais debate e atenção com a sociedade e não medidas concebidas por poucas pessoas que ocupam os gabinetes acarpetados e refrigerados das repartições públicas.
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