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Desvendando os Bitcoins

Fernanda Neme

| Edição de 13 de janeiro de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Em decisão divulgada anteontem, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) proibiu gestores e administradores de fundos de investir diretamente nas chamadas criptomoedas, o que inclui o Bitcoin. A autarquia, que tem um papel regulador, decidiu se manifestar após notar um aumento das consultas sobre o tema nos últimos dois meses e em meio às incertezas envolvendo as moedas virtuais. Quanto vale, se é legal e como funciona esse mercado são as principais dúvidas envolvendo o Bitcoin. 

Imagem ilustrativa da imagem Desvendando os Bitcoins


Para começar, o Bitcoin – cuja cotação, na última sexta-feira era de R$ 48 mil - foi a primeira moeda digital criada por uma pessoa que se apresenta pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto e cuja identidade nunca foi comprovada e que agora divide a lista com mais de mil e trezentos outros tipos de criptomoedas pela web, como Dash, Monero, Ripple, Ethereum e Litecoin. 
Com uma proposta revolucionária em relação ao mercado financeiro tradicional, uma vez que se trata de um ativo que não é controlado por nenhum tipo de Banco Central, o assunto é tão novo – o bitcoin apareceu em 2008 - e controverso que faltam até especialistas para falar sobre o assunto. Quem se aventura nesse mercado, faz por conta própria.
É o caso de Eliezer Shigueo Takahashi Luciano, professor de Marketing e Empreendedorismo, e consultor de vendas, de Marilândia do Sul, que acompanha o mercado de moedas digitais há dois anos e começou a investir há cerca de 6 meses. “O Bitcoin basicamente é a primeira moeda virtual e a que mais tem visibilidade, mas existem outras milhares de moedas”.
O professor conta que Satoshi Nakamoto, segundo pesquisas pela internet, criou a moeda virtual pensando em uma maneira de libertar a população dos abusos de governos e bancos. “Pense que a melhor maneira de ter um domínio sobre uma população, é controlando o dinheiro”, acrescenta. 
Segundo Eliezer, por trás do Bitcoin, Nakamoto criou um sistema chamado blockchain (em português, sistema de blocos), que basicamente significa um sistema unificado e seguro. Imagine uma foto tirada por smartphone, você consegue vê-la, no entanto, ela é composta de milhares de pixels. 
No blockchain, é como se cada pixel se encontrasse em um computador diferente, ou seja, para conseguir roubar essa foto, é necessário invadir milhares de computadores, tornando uma tarefa impossível. “Quase mais importante que o bitcoin, é a tecnologia blockchain criada. A ideia de Nakamoto é que essa moeda se tornasse universal e que todos pudessem usá-la, sem precisar de intermediários”. 
E como é criada uma moeda virtual? Esse também é um processo diferente de tudo que costumamos pensar a respeito de dinheiro. As criptomoedas são "mineradas" por milhares e milhares de computadores, conectados em uma rede específica para a criação da moeda virtual. Cada computador registrado nesta rede roda um programa com base em complexos algoritmos para a criação da criptomoeda, e quem tiver mais poder de processamento tem preferência no recebimento dos lotes para mineração. 

Investimento é de risco e deve ser feito de forma moderada
Qual o risco de investir nessa moeda? Para o professor Eliezer Shigueo Takahashi Luciano, quem investe deve ter consciência de que pode perder da mesma maneira que isso pode ocorrer, por exemplo, no mercado de ações. 
“O que acontece com as pessoas, principalmente aqui no Brasil, onde tempos pouca educação financeira e onde ainda grande parcela da população tem como único investimento a poupança, é a que a ganância as deixam cegas, e isto acaba fazendo com que acumulem perdas que elas não conseguem suportar”, diz. 
Portanto, a recomendação é que se invista apenas uma pequena parte do seu dinheiro nesse tipo de investimento. “O recomendado é 80% em ativos de renda fixa, 15% em renda variável e 5% em Bitcoin”, diz. 
Outro cuidado, segundo o professor, é nunca deixar dinheiro parado na Exchange. “Se porventura a moeda deixar de existir, você perde o dinheiro que está investido nela (seja real, dólar ou Bitcoin). Aconselho a fazer a transação em exchanges confiáveis e guardar o seu código (Bitcoin) com você mesmo. Veja que da mesma maneira que temos cuidado com nosso dinheiro, também devemos ter cuidado com o Bitcoin”. 

Como comprar dinheiro virtual? 
Para comprar a moeda digital, é preciso ter uma conta em uma Exchange (que basicamente é uma corretora), se a exchange for brasileira, a quantia será transferida em real. A grande maioria das exchange tem um valor mínimo para a compra, que em média é de R$250. Após a validação da quantia transferida, o interessado compra o correspondente em Bitcoin. “Como uma moeda de Bitcoin custa R$48 mil, você pode comprar frações desse dinheiro virtual, a partir do limite que a exchange estipula. Pense no Bitcoin, como se fosse real brasileiro: você tem a nota de R$100, mas tem frações desse valor, que podem chegar até R$0,01”, Eliezer Shigueo Takahashi Luciano. 
Após comprar o Bitcoin, o professor diz que é importante não deixar todo o dinheiro digital parado na corretora. O comprador pode copiar o código do Bitcoin comprado e guardar em um cofre, por exemplo, ou baixar uma e-wallet (carteira virtual), que serve, assim como a carteira usada no dia a dia, para a moeda digital. É uma medida de segurança. “Se você deixar guardado apenas no computador e perder o computador, ou este for roubado, você perde o dinheiro”, comenta.
Outra pergunta frequente é se é possível comprar serviços ou objetos com Bitcoin. Na internet isso possível. Algumas empresas – incluindo redes de varejo – vem ofertando essa possibilidade. “Vejo isso como um sinal positivo, pouco a pouco, o Bitcoin vai deixar de ser especulação e passará a ser uma moeda normal de troca, assim como o Dólar e o Real”, comenta.

Investir 
é ilegal? 
Atualmente o Bitcoin e as outras moedas estão à margem da legislação brasileira, mas isso deve mudar. Um projeto sobre o tema deve ser discutido numa comissão especial feita só para tratar do assunto na Câmara dos Deputados neste ano. O projeto nem começou a tramitar ainda e já causa polêmica. Enquanto alguns deputados defendem a regulamentação das criptomoedas, outra linha pensa em tornar ilegal a transação.
O posicionamento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de proibir gestores e administradores de fundos de investir diretamente em bitcoins e outras criptomoedas leva em consideração a possibilidade de uma lei negativa.
Apesar da proibição de que fundos invistam diretamente em criptomoedas, a CVM ainda não chegou a uma conclusão no que diz respeito à aplicação indireta, ou seja, fundos locais que compram cotas de fundos no exterior que investem em ativos ligados a criptomoedas. Isso poderia ser feito por meio de contratos futuros de bitcoin, como os negociados na Bolsa de Chicago.
Ainda que o bitcoin não seja regulamentado, os lucros obtidos com as transações e revertidos em Real, por exemplo, devem ser declarados, a fim de pagamento do Imposto de Renda.

Investidores destacam vantagens e desvantagens do sistema
Por ser um mercado novo, os investidores de Bitcoins acabam virando estudiosos do assunto. O gestor de agronegócios e consultor em T.I. apucaranense, Anderson Emanuel Batalini, 30, descobriu as moedas digitais através das mídias digitais e de grandes investidores. Ele compra Bitcoin e investe, mas procura sempre entender o mecanismo das criptomoedas para não errar. “Procuro sempre estar informado, buscando novos conhecimentos na área, pois o mercado de criptomoedas, apenas profissionais ganham. É preciso, inteligência, experiência, intuição e por último, sorte”. 
Entre as vantagens, Anderson acredita que o principal é que não há intermediários e não pagar impostos, somente taxa de transferência. Além disso, ele cita a segurança nos investimentos e as transações feitas por meio digital.
O analista de Marketing, Flávio Berçalini, 30, de Apucarana, conhece as moedas digitais há cerca de quatro anos. Ele ainda não comprou criptomoedas, mas se arrepende. “Ainda não investi e me arrependo de não ter investido antes. Com a popularização desse tipo de dinheiro é algo que veio para ficar. O que mais me atrai são as possibilidades de ser uma "moeda global" e também pela descentralização do poder econômico que atualmente é controlado pelo governo (banco centrais) e instituições financeiras (bancos) ”.