OPINIÃO

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Economia de guerra

Por Rogério Ribeiro, economista e professor da Unespar

| Edição de 22 de março de 2020 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Nesta semana, em conversa com uma amiga sobre a conjuntura econômica e social atual ela usou o termo “economia de guerra” para definir o que podemos passar nos próximos meses. Muitas pessoas podem até achar exagero, mas não podemos descartar tal possibilidade dada a inércia de nossos agentes políticos em assumir o protagonismo no combate à pandemia do coronavírus.
Economia de guerra trata-se de um fundamento econômico que ocorre quando um país ajusta todas as cadeias produtivas para produzir mercadorias e equipamentos voltados para um confronto armado. Há diversos relatos dos custos financeiros de uma guerra e suas consequências para as populações dos países envolvidos e alguns deles estudamos nos livros de história.
O que temos pela frente não é uma guerra no sentido literal, mas as consequências econômicas e sociais poderão ser similares dependendo das ações de nossos governantes. Podemos aprender algumas coisas com as experiências recentes dos chineses e dos italianos, porém a estrutura econômica e social de nosso país é diferente.
Os agentes políticos parecem estar totalmente “perdidos” sobre o que fazer para o enfrentamento da situação posta e algumas soluções começam a ser “copiadas” (no bom sentido) do que ocorreu em outras localidades do mundo.
O termo “economia de guerra” acredito que não se aplique no caso brasileiro em seu sentido estrito, porém as decisões que estão sendo tomadas pelos nossos agentes políticos estão contribuindo para gerar uma conjuntura calamitosa para nossa economia.
É fato que os governos, em especial o governo federal, tem que tomar medidas drásticas para o combate a esta pandemia só que nossos governantes parecem “perdidos”, sem saber o que fazer. O presidente Bolsonaro, que deveria assumir o protagonismo e apresentar medidas efetivas, não o faz. Os governadores, alguns mais reticentes, tomam medidas que ainda não é possível medir suas eficácias. E os prefeitos apresentam medidas proporcionais, sendo que a maioria com efeitos cosméticos.
Recentemente a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que há a possibilidade de cerca de 70% da população alemã ser contaminada com o novo vírus. E há uma explicação científica para isto. A afirmação da dirigente é sóbria e todos sabemos que os governos devem tomar medidas para proteger os seus cidadãos. 
Nesta linha o que o governo federal divulgou até o presente momento como medidas na área econômica ajuda a resolver alguns problemas pontuais, porém não estão anunciando “dinheiro novo” e sim antecipando execução orçamentária e fazendo alguns remanejamentos.
Estas medidas combinadas com as decisões de vários municípios de fechamento ou controle nos horários de funcionamento do comércio, setor de serviços e indústrias, com certeza ajudarão no combate à pandemia, porém gerarão uma nova onda de desemprego e o governo federal tem que se antecipar e tomar medidas para enfrentamento da crise econômica que se instalará após ou mesmo durante a crise do coronavírus.
Decisões como a de autorizar as empresas a reduzir em até 50% os salários dos funcionários geram pânico. É necessário que as pessoas mantenham o isolamento social para combater a propagação do vírus, porém muitas pessoas estão com receio de não trabalharem e não receberem os salários integrais. Já do lado dos empregadores, principalmente os micro e pequenos empresários, há a preocupação em como que pagarão os seus custos fixos de portas fechadas.
Este cenário de crise na saúde está gerando incertezas na área econômica que, com a letargia governamental em apresentar soluções que amenizem os danos e acalentem os cidadãos, irá gerar o agravamento da atual crise econômica.