OPINIÃO

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Idoso se diverte?

Por Rogério Ribeiro, professor e economista em Apucarana

| Edição de 07 de janeiro de 2017 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Uma reportagem veiculada no Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite de quarta-feira (04/01/2017) encerra com a seguinte afirmação de idosos japoneses que se encontram ainda no mercado de trabalho: “Quem trabalha é jovem. Idoso se diverte!”. A reportagem tem como título “Idosos enfrentam o desafio de se manter no mercado de trabalho” e, em seu escopo, traz muitas provocações de reflexões acerca de temas como: mercado de trabalho, aposentadorias, Previdência Social e qualidade de vida dos idosos.

Que a Previdência necessita ser reformada, não resta dúvidas. Segundo dados do governo federal há déficit na Previdência, pois os pagamentos superam as receitas, mesmo tendo mais de 55 milhões de trabalhadores formais que contribuem. Acontece que há cerca de 34 milhões de aposentados, pensionistas e detentores de outros benefícios que são pagos mensalmente com o total das contribuições do pessoal que está na ativa.

Como podem ver a conta não fecha mesmo. O valor da receita da Previdência, com base nas contribuições do pessoal que está trabalhando mais a contribuição patronal, não é suficiente para pagar todos os benefícios necessários. Com isto há o déficit que é coberto com recursos do orçamento do governo federal e que reduz a possibilidade de financiar outros serviços públicos e aumentar o nível de investimentos.
Mas a causa disto tudo é do próprio governo. Não só do atual. Dele e de todos os que o antecederam. Pouco se preocuparam efetivamente com a melhoria da qualidade de vida do brasileiro. Se assim tivessem se comportado a renda média real seria maior, o sistema de previdência teria liquidez, os aposentados teriam uma renda digna que possibilitaria ele se aposentar com qualidade de vida, nossa economia seria mais rica e as desigualdades sociais entre pobres e ricos seriam menores.

A reportagem tenta justificar a necessidade de os idosos terem que ficar mais tempo no mercado de trabalho para pesar menos sobre a Previdência. Mas na outra ponta não fala que temos um “exército” de jovens que estão entrando em idade economicamente ativa e passarão a demandar emprego. É uma conta simples: a taxa bruta de natalidade em 2015, no Brasil, foi de 14,16 nascimentos por mil habitantes contra uma taxa bruta de mortalidade de 6,08. Com isto a taxa de crescimento demográfico nacional é mais elevada do que a de regiões com países de melhor qualidade de vida.

No Brasil as pessoas estão se aposentando muito jovens, sim. Mas a reforma que estão propondo, além de reduzir ainda mais o valor médio dos benefícios, esta obrigando as pessoas a se aposentarem muito mais tarde. Isto é uma injustiça social das mais perversas com aquelas pessoas que durante muitos anos trabalharam e se esforçaram, contribuindo para minimizar as patacadas que os agentes políticos fizeram em nosso país. E quando chega o momento de se aposentarem vem o governo e quer obrigá-los a continuarem no mercado de trabalho para resolver um problema fiscal que o próprio governo criou. Isto sem falar que o valor dos benefícios ficará longe dos recebidos quando estavam na ativa.

E o pior de tudo é que querem comparar nossa situação com a do Japão que possui uma população de jovens pequena e insuficiente para ocupar as vagas existentes no mercado de trabalho.

O brasileiro pode e deve aceitar se aposentar mais tarde, após os 60 anos, mas que esta aposentadoria seja digna e que o valor do benefício recebido dê conta de garantir qualidade de vida para ele e para os seus sem necessitar se sujeitar a continuar no mercado de trabalho até perto de sua morte. Daí sim poderá se afirmar que o idoso brasileiro se diverte.