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Impasse após uma semana de isolamento

Cindy Santos

| Edição de 28 de março de 2020 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Uma semana após decreto que ordenou isolamento social por conta da covid-19 e resultou na adoção de medidas duras, como o fechamento do comércio e barreiras sanitárias em vários municípios,  a região vive agora um impasse entre os setores da saúde e economia. As prefeituras estão sendo pressionadas a retomar as atividades do comércio para que a economia não seja prejudicada. Por outro lado, as autoridades médicas orientam sobre o isolamento, sobretudo dos grupos de risco, para impedir a circulação do novo coronavírus. Enquanto isso, a população busca alternativas para driblar as dificuldades. 

Ontem em Apucarana, empresários e funcionários saíram em carreata pedindo a retomada das atividades do comércio varejista na cidade. No início da noite, após duas rodadas de reuniões, o prefeito Junior da Femac anunciou a manutenção do fechamento do comércio, mas liberou algumas atividades a partir de segunda-feira em um processo de adaptação às diretrizes do Governo Estadual. Hoje, está marcada uma manifestação em Arapongas, onde o prefeito também recebeu na tarde de ontem empresários solicitando a reabertura do comércio.
O presidente da Associação Comercial, Empresarial, Industrial e de Serviços (Acia) Jayme Leonel afirma que a pressão é grande por parte dos comerciantes obrigados a fechar seus estabelecimentos, em virtude do decreto. “Não calculamos o prejuízo das empresas, mas é forte a pressão de comerciantes e funcionários que vão ficar sem emprego. Imagino que até segunda tenha alguma mudança”, comenta.
De acordo com ele, os empresários reclamam do comprometimento no faturamento devido à paralisação das atividades. Contudo, também há dúvida se haverá movimento nas ruas se acaso o decreto for suspenso. “Tem gente falando em demissão porque não tem venda e, consequentemente, não tem faturamento. Mas também, não se sabe se o comércio reabrir, se terá gente para comprar”, observa. 
Entretanto, Leonel compreende a necessidade de isolamento social neste momento, devido à pandemia da covid-19. “Esse problema está dificultando tudo, porque não adianta abrir o comércio e ter uma epidemia na cidade. Eu mesmo estou em quarentena, porque faço parte do grupo de risco”, afirma. 
O presidente da Acia destaca que a entidade não está em cima do muro e que encaminhou as reivindicações dos associados à prefeitura. “Não é só os comerciantes que fazem parte da Acia, muitos consultórios médicos são associados e todos os médicos são contra a abertura do comércio”, reitera.
O impasse não acontece só em Apucarana e Arapongas. Em  Jandaia do Sul e Ivaiporã, o dia ontem também foi de reuniões entre prefeitos, vereadores e empresários (ver reportagem na página 3). 

Especialistas também divergem sobre 
Levantamento da Tribuna junto à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), mostra que em 20 de março, dia em que os prefeitos de Apucarana e Arapongas assinaram decretos para fechamento do comércio varejista, seis casos eram investigados na região. Boletim divulgado anteontem aponta que o número de suspeitas saltou para 14 (133%) e um caso foi confirmado em Faxinal.  O relatório divulgado ontem não mostra o número de casos suspeitos uma vez que houve uma mudança na metologia adotada, mas confirma duas mortes pela covid-19 em Maringá, as primeiras em todo o Paraná (ver reportagem na página 6). Em Apucarana e Arapongas são mais de 500 pessoas em isolamento domiciliar com sintomas de doenças respiratórios.
Infectologista José Ruy Conde Alves de Apucarana, considera que a decisão mais difícil será identificar o momento certo de retomar as atividades, deixando apenas os grupos de risco isolados. “Essa é a maior divergência entre todos os pesquisadores”, assinala.
O médico explica que o conceito de isolamento horizontal é o adotado atualmente, com objetivo de manter toda a população em casa para evitar o contágio. No isolamento vertical, somente os grupos de risco - caso dos idosos e pessoas com doenças crônicas -  ficam afastados do convívio social. “Os governos estão seguindo essa recomendação, baseados em evidências de países que fizeram o isolamento vertical. Já no isolamento horizontal, a população teria que assumir a responsabilidade de manter os cuidados com a higiene e preservar os grupos de risco”, explica.

População dribla dificuldades no dia a dia
Em meio ao conflito entre saúde economia, a população busca alternativas para driblar as dificuldades geradas pelo novo coronavírus. Em Apucarana, trabalhadores de serviços prioritários que precisam sair de casa estão redobrando os cuidados com a higiene pessoal. Máscara e o álcool gel tornaram-se os maiores aliados da população, tanto que os produtos estão em falta na cidade. Usuários do transporte público, que não têm outro meio de locomoção, buscam horários alternativos para evitar aglomeração dentro dos coletivos. Quando não é possível evitar o horário de pico, trabalhadores afirmam que estão mantendo distância das pessoas. Nos estabelecimentos que continuam funcionando, o uso de máscaras e luvas tornou-se obrigatório. A limpeza dos ambientes também é feita com maior frequência

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