OPINIÃO

min de leitura - #

Intestinos e fígados

Por Rogério Ribeiro, professor e economista em Apucarana

| Edição de 19 de março de 2017 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

Fique por dentro do que acontece em Apucarana, Arapongas e região, assine a Tribuna do Norte.

Estudos recentes publicados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) abordaram temas relativos ao baixo crescimento da economia global e a importância de reformas estruturais voltadas para o aumento da produtividade. Já está pacificado na teoria econômica que uma forma de aumentar a produtividade é a partir da utilização de tecnologias de processos e de produtos. Entretanto temos que considerar que muitas economias possuem atividades econômicas intensivas em mão-de-obra e o aumento da produtividade implica, necessariamente, em redução do nível de emprego dos fatores de produção, dentre eles o da mão-de-obra.

Por óbvio nosso país possui um grande dilema e que está mantendo o baixo crescimento através do baixo nível de produtividade da economia. É claro que a política econômica irresponsável implementada pelo governo federal nos últimos dez anos colaborou, e muito, para que o efeito do “voo da galinha” ocorresse novamente em nossa economia.

Agora os aumentos da competitividade global aliada aos níveis de baixo crescimento dos países do globo estão fazendo as economias darem uma guinada de ações políticas no sentido do protecionismo e os países mais vulneráveis passam a sofrer, ainda mais, com as mudanças no cenário econômico mundial.

Com efeito, temos que inserir a economia brasileira num contexto de vulnerabilidade econômica, uma vez que se não forem implantadas reformas estruturais os agentes econômicos não conseguirão melhorar seus respectivos desempenhos e o aumento do desemprego passa a ser iminente.

É claro que a sede reformista do governo Temer é atrapalhada, intempestiva e autoritária. Atrapalhada justamente porque está sendo proposta num momento em que os fundamentos da economia estão muito sensíveis e também porque não se estabeleceu nenhuma forma de debate com a sociedade. Tais reformas estão vindas, literalmente, de “cima para baixo”, sem consultas aos cidadãos que serão atingidos diretamente pelas medidas propostas. Medidas que são concebidas por um pequeno grupo que se consideram “notáveis” no assunto não é a melhor forma de fazer mudanças estruturais.

Porém, temos que considerar que num debate público somente comparecem os militantes que possuem fortes influências de doutrinas que pregam que o estado deve ser responsável por tudo e isto é temerário, uma vez que há a necessidade de se indicar as fontes de financiamento para todas as ações governamentais.
Os governos recentes de nosso país trataram de ampliar os gastos públicos sem se preocupar com o outro lado da equação: o da receita. Com isto o desequilíbrio nas contas públicas jogou nossa economia quase no “fundo do poço”. Agora as medidas para restabelecer as condições existentes antes das medidas irresponsáveis de nossos gestores públicos são duras e prejudicam, como sempre, as camadas mais pobres de nossa economia.

As reformas estruturais devem acontecer, sim. Mas a parcela racional da sociedade deve participar do debate e as mudanças devem ser implantadas somente após o convencimento desta parcela racional que terá a missão difícil de convencer aqueles que pensam somente com seus respectivos “fígados”.

A participação de pessoas com tendências extremistas, tanto de esquerda quanto de direita, somente servirá para tornar o debate mais duro e difícil e, com certeza, os resultados nunca serão os melhores para o conjunto da sociedade. Nestas situações devemos seguir a lógica aristotélica de que o equilíbrio está no meio.