OPINIÃO

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Metade pelo meio

Por Rogério Ribeiro, economista, professor universitário e vice-presidente para assuntos de controle social do Observatório Social de Apucarana

| Edição de 21 de outubro de 2017 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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O tema do emprego e do desemprego está sempre presente nos discursos da maioria dos agentes políticos. Desde o presidente da República até os vereadores, estes costumam utilizar a temática em seus discursos e pronunciamentos. Mas será que eles realmente se preocupam com isto? Se sim quais são as medidas que tomaram ou que irão tomar para melhorar o cenário do emprego em sua cidade, estado ou país?

Sendo cético, acredito que se o desemprego não fosse uma variável econômica que abalasse a popularidade do presidente da República, muito pouco, ou quase nada, ele faria sobre o assunto. Da mesma forma governadores e prefeitos. Neste último quase nada de efetivo vemos sendo concebido em nível de política municipal de geração de emprego e renda. Até porque poucos instrumentos estão à disposição e ao alcance dos prefeitos.
Já senadores, deputados e vereadores, estes sim, utilizam o emprego e desemprego como ferramenta de discurso somente para angariar a simpatia popular, uma vez que nada podem ou nada tentam fazem para mudar este cenário. 
A economia brasileira está retomando a geração de empregos. Isto é bom, muito bom. E agora todos os agentes políticos buscam um “espaço na janela” e tentam deixar a entender que contribuíram de alguma forma para a melhoria do nível de emprego. Posicionamentos contraditórios, uma vez que no momento do debate e votação de medidas para enfrentamento da crise econômica boa parte destes criticavam as medidas apontadas pelos formuladores de política econômica.
Comemoremos o desempenho recente da geração de emprego, sim. Mas temos que perguntar: será que estes políticos sabem quantos postos de trabalho foram fechados nos últimos quatro anos? Será que sabem quantos jovens conseguiram seu primeiro emprego neste período? E será que sabem quantos trabalhadores perderam seus empregos e não conseguiram recolocação no mercado de trabalho no período?
Pois bem, de outubro de 2013 a setembro de 2017 o volume de desempregados aumentou em cerca de 3 milhões de brasileiros, cerca de 7 milhões de jovens conseguiram seu primeiro emprego e cerca de 9,8 milhões de trabalhadores brasileiros perderam seus empregos nos últimos quatro anos e não foram readmitidos, ou seja, continuam desempregados. E este cenário se reproduziu nos estados e municípios brasileiros.
A microrregião de Apucarana aumentou o volume de desempregados em 5,5 mil pessoas nos últimos quatro anos, 12 mil jovens conseguiram seu primeiro emprego e 16,8 trabalhadores perderam seus empregos e não foram recontratados.
Os pensamentos torcidos devem girar em torno da cabeça de todos os cidadãos, especialmente naqueles que possuem um mandato eletivo, pois neles recaem as responsabilidades de legislar e implementar políticas públicas. E cadê as políticas públicas locais para geração de emprego e renda? Cadê o debate acerca deste problema econômico e social tão grave que assola nossas famílias?
Infelizmente não vemos muitos esforços neste sentido. Afinal de contas é mais fácil e cômodo apontar o dedo e jogar a culpa no governo federal. Será que nada pode ser feito localmente para mudar esta estrutura? Acredito que sim, por isto temos que cobrar nossos agentes políticos locais ações e soluções para este problema.
Como na música “Desemprego” da banda Legião Urbana, não sabemos se todos os trabalhadores tem medo de perder o emprego, mas sabemos que a renda está diminuindo e que o que os trabalhadores recebem mal dá para se alimentar. Mas será que nossos políticos tem medo de debater soluções para o desemprego? Será, que como sempre, teremos uma metade pelo meio?