OPINIÃO

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Mudanças à vista

Por Rogério Ribeiro, economista e professor universitário

| Edição de 08 de julho de 2020 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Quando algo passa por uma espécie de transformação costumamos chama-lo de “novo”. Porém chamar algo de novo não significa que é melhor, só estamos querendo registrar que ocorreram mudanças.
Com a pandemia da Covid-19 muitas coisas estão mudando e muitas outras ainda irão mudar. Já se falam em um novo normal que nada mais é do que um padrão diferente de convivência entre os agentes sociais, gerado por conta das novas experiências de isolamento e distanciamento social. 
O filósofo Luiz Felipe Pondé considera “ridícula” esta história de novo normal alegando que dentro de poucos anos ninguém mais se lembrará da pandemia e que a utilização deste jargão não passa de uma espécie de jogada de “marketing barato”. Independente do termo a ser utilizado o que é certo é que o comportamento social irá se alterar.
Recentemente, numa conversa com dois empresários, com a utilização de máscara e cumprindo com o distanciamento social necessário para evitar ou minimizar riscos de contágio, fui surpreendido pelo depoimento deles com relação a como é que estavam lidando com as questões advindas da pandemia.
Um deles relatou que optou por não demitir funcionários e aderiu ao programa do governo federal que permitiu a redução da jornada de trabalho com a respectiva redução dos salários. A diferença dos salários dos empregados é o governo que garante e paga para os trabalhadores. É claro que ele afirmou que o movimento caiu muito e que teve que fazer ajustes nas despesas, ou seja, muitas despesas que eram consideradas normais foram relativizadas. 
Com isto, o empresário afirmou que está satisfeito, pois, embora tenha reduzido o nível de atividade, a queda na sua produção foi menos que proporcional à redução da jornada. Considerando que ocorreram reduções nas despesas a rentabilidade caiu, porém não tanto quanto esperado.
Já o outro empresário disse que, inicialmente, teve que demitir cerca de 30% de seus funcionários, pois não conseguiria pagar os salários com a queda nas vendas. Passado pouco mais de um mês decidiu dispensar mais alguns funcionários, reduzindo o seu quadro à metade do quantitativo inicial. Neste caso o empresário declarou que o nível de vendas e produção caiu muito nos meses de março a maio, mas que já retornou à normalidade. Só que a empresa está conseguindo manter o mesmo nível de produção anterior com metade do quadro de funcionários. Ocorreu um aumento da produtividade de seus trabalhadores.
Muitas pessoas poderão criticar estes relatos taxando-os de exploração dos trabalhadores, já outras pessoas irão considerar como um novo padrão de produção. Mas é difícil, sem estudos mais profundos, afirmar o que causou estas transformações.
O que é certo é que a produtividade brasileira sempre foi considerada baixa quando comparada com outras economias e, no início deste ano, ela estava no mesmo nível de 30 anos atrás. Estudos recentes apontam que a produtividade do trabalhador brasileiro equivale a 25% da produtividade do trabalhador norte-americano e 30% do trabalhador alemão ou coreano.
O que é certo é que teremos mudanças significativas na economia com alterações na produtividade média e marginal, porém estes eventos devem começar a ocorrer também na produtividade do setor público, até porque não há possibilidades sustentáveis de aumento das receitas no curtíssimo prazo.
O setor público brasileiro terá que sofrer mudanças. Bom para muitos e ruim para alguns, mas certa é a necessidade de uma ampla reforma na administração pública brasileira.