OPINIÃO

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O suicídio e a morte da dor

Por padre Ezequiel Dal Pozzo

| Edição de 17 de setembro de 2019 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Muitas vezes pensamos que o dinheiro é o que importa na vida. Um palestrante contou em sua palestra: Às vezes, nos iludimos pensando que os filhos de milionários são muito ricos e felizes. Certo dia recebi um telefonema de um empresário, dono de grande empresa, onde eu havia dado consultoria e me falou que o filho dele de 23 anos havia morrido. Estava viajando e não pude ir ao enterro. 

Ao retornar da viagem fui visitar a família e participei de um ritual judeu onde se celebra durante sete dias depois da morte. Quando estava indo embora o irmão mais velho chegou a mim e disse que encontrara a agenda do seu irmão onde viu que estava marcada uma reunião comigo, na semana seguinte a sua morte, de orientação de carreira. Pensou que se o irmão tivesse conversado comigo, tudo poderia ter sido diferente. Perguntei a causa da morte do irmão e ele me falou com os olhos cheios de lágrimas que havia sido suicídio. O rapaz que parecia saudável se jogou do prédio. 
Não consegui trabalhar naquele dia, pois fiquei em choque. Pensava sobre a vida e sobre os rumos que ela pode tomar quando na vida temos tudo, menos amor, tempo, atenção e cuidado. Os pais daquele jovem se dedicaram para construir um império. 
Provavelmente não tiveram tempo para a família, para estar perto dos filhos, para perceber suas reais necessidades. Certamente a necessidade maior não era dinheiro, mas era sim consolo da alma, superação da angústia. O dinheiro não supre o afeto. “Eles sempre tiveram um estilo de vida caro, rico em presentes, mas muito pobre em tempo”, comentou. 
Caro leitor, essa pequena história já tem a sua lição. Naturalmente que não dá pra jogar a responsabilidade do suicídio sobre os pais. A vida é tarefa de cada um. Esse filho, embora dentro desse contexto, não teria razão para fazer isso. Nenhuma razão é razoável para o suicídio. A pessoa que desiste de viver, desiste de sua dor. Não precisamos jogar nos outros a culpa e nem em quem comete. 
Se os outros são culpados, também aquele que se suicida mostra sua fraqueza. O que dá para dizer é que nós podemos aprender com tudo. A vida é bonita e pode ser vivida com qualidade. Trabalhar, ganhar dinheiro, evoluir, ter sucesso, tudo é legítimo, quando regado pelo amor. O mundo precisa de mais amor. As famílias podem dedicar mais tempo para que o amor não falte. Pode até faltar outras coisas, mas amor é o que dá sabor e alegria à vida.