OPINIÃO

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​ Onde sobra violência, falta empatia

Por padre Linho Batista de Oliveira, professor doutor da Facnopar e pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima de Apucarana

| Edição de 12 de abril de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Não é novidade para nenhum de nós, aqui no Brasil, o crescente aumento do fenômeno da violência. Basta acessar nossos meios de informações, que rapidamente somos tomados por inúmeros atos de violências que se sucedem em nossa sociedade. É muito preocupante o crescimento da violência e o aumento do estado de medo no qual as pessoas estão vivendo, principalmente porque nessas horas temos sempre a tendência em pensar menos e fazermos mais pelos esfíncteres. Aí mora o risco do oportunismo pela solução mais fácil, contudo, nem sempre a mais inteligente. 

A origem do termo violência, do latim “violentia” , expressa o ato de violar outrem ou de se violar. Além disso, o termo parece indicar algo fora do estado natural, algo ligado à força, ao ímpeto, ao comportamento deliberado que produz danos físicos tais como: ferimentos, tortura, morte ou danos psíquicos , que produz humilhações, ameaças, ofensas. Dito de modo mais filosófico, a prática da violência expressa atos contrários à liberdade e à vontade de alguém.
Além do conceito é preciso averiguar as formas de violência. Entre as formas, é possível mencionar a violência provocada e a gratuita, a real e a simbólica, a sistemática e a não sistemática, a objetiva e a subjetiva, a legitimada e a ilegitimada, a permanente e a transitória. Formas que se desdobram em diversas modalidades: a guerra, a revolução, o terrorismo, o genocídio, o assassinato, o crime organizado, a violência urbana, a violência contra a criança, contra o adolescente, contra a mulher; o estupro, o assédio sexual, o bullying, o vandalismo, o racismo, o virtual. Também podemos acrescentar a corrupção como forma de violência e seus derivados como nepotismo, propina, extorsão, tráfico de influência e outras modalidades.
No Brasil, todas as formas e modalidades vêm representadas. O ATLAS 2017, sobre a violência no Brasil, mostra-nos um retrato atualizado do que estamos vivendo. É espantoso! Muitos dados poderiam ser trazidos a partir do ATLAS 2017, mas me restrinjo a alguns, são eles: mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. Apenas em 2015, foram 31.264 homicídios de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. No que diz respeito às Unidades da Federação, é possível notar uma grande disparidade: enquanto em São Paulo houve uma redução de 49,4%, nesses 11 anos, no Rio Grande do Norte o aumento da taxa de homicídios de jovens foi de 292,3%.
Os homens jovens continuam sendo as principais vítimas: mais de 92% dos homicídios acometem essa parcela da população. Em Alagoas e Sergipe, a taxa de homicídios de homens jovens atingiu, respectivamente, 233 e 230, 4 mortes por 100 mil homens jovens em 2015.
A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência.
Perante uma situação que revela tanta intolerância e agressividade em relação ao outro, em especial, ao outro que é diverso de mim: o outro mulher, o outro criança, o outro negro, o outro de outro gênero, o outro de outra opção sexual e o outro de outra condição social, o que fazer? A resposta não é simples, pois ela envolve o ser do homem; a sua cultura; a história; a constituição da sociedade; a distribuição de renda e a educação. 
São muitos os fatores a serem considerados na busca de uma sociedade menos violenta, mas gostaria de sugerir uma ideia que pode nos ajudar na busca por uma sociedade menos intolerante. Trata-se da ideia da empatia, pois acredito, como escreveu a educadora Rosely Saião em um dos seus artigos na Folha de São Paulo, que se fôssemos mais empáticos, talvez as coisas pudessem ser diferentes, afinal de contas, empatia significa se colocar no lugar do outro. Há uma grande preocupação global com a nossa atual ausência de empatia e a certeza de que a sua falta contribui, e muito, para nos fazermos violentos. 
Um sinal disso foi a inauguração, em Londres, do primeiro Museu da Empatia. Nele, os visitantes são convocados a experimentar/enxergar o mundo pelo olhar de um outro – não próximo ou conhecido, mas um outro com quem eles não têm qualquer relação. A expressão que deu sentido ao museu é a inglesa “in your shoes” (em seus sapatos), que em língua portuguesa significa “em seu lugar”. Os visitantes se deparam, na entrada, com uma caixa com diferentes pares de sapatos usados. Escolhem um de seu número para calçar e recebem um áudio que conta uma parte da história da pessoa que foi dona daquele par. Dessa maneira, contribui-se para que a virtude da empatia possa se desenvolver, afinal, viver a empatia é uma condição absolutamente necessária para ensiná-la. 
A conclusão a que poderíamos chegar, como nos ensina Rosely Saião, é a de que muitas das nossas atitudes violentas, “bárbaras”, ocorrem pela falta de empatia. Dessa forma, estacionar o carro em vaga de idosos, grávidas e portadores de deficiência, na Praça da Catedral em Apucarana, é mais do que contravenção: é falta de empatia. Reclamar da lentidão dos velhos é mais do que desrespeito: é falta de empatia. Agredir ostensivamente o outro por suas posições é mais do que dificuldade em lidar com as diferenças: é falta de empatia.