OPINIÃO

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Pelo silêncio ou pela conivência

Por Rogério Ribeiro, economista, professor universitário e vice-presidente para assuntos de controle social do Observatório Social de Apucarana

| Edição de 18 de março de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Sempre ouvi que o Brasil é um país rico e que os brasileiros são pacatos. Só que nos últimos vinte anos o país passou por transformações sociais significativas e o comportamento geral dos brasileiros também mudou. A sensação é que temos mais pessoas lutando por conquistas sociais e por avanço nos chamados direitos adquiridos. Por outro lado, passamos a ter um governo mais míope e surdo com relação às demandas da sociedade.

Nos anos recentes se tornou comum ouvir comentários de que os brasileiros são corruptos por natureza e de que algumas categorias de trabalhadores são privilegiadas e que não se importam com o conjunto da sociedade. Sinceramente é preocupante o momento social e político que nosso país está vivendo.
Em palestra no quinto Fórum Econômico Mundial da América Latina, que ocorreu em São Paulo, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, fez afirmações que nos levam a refletir sobre o que está acontecendo em nosso país. Ao mesmo tempo, suas afirmações nos levam a ter uma preocupação acerca do futuro que nos aguarda.
Ele afirmou que a operação Lava Jato apura somente 10% da corrupção em nosso país e que a maior parte da corrupção ocorre nos estados e municípios brasileiros.
Para dar um exemplo foi citado que, numa auditoria ocorrida em 3.500 municípios acerca da aplicação de verbas federais ficou constatado que dois terços destes municípios "somem" com o dinheiro da merenda escolar, do material escolar e da saúde. Com isto, concluiu que "estão destruindo o futuro do Brasil, estão destruindo as crianças brasileiras".
Acredito nas afirmações dele. Esta é a sensação que todos os brasileiros possuem, uma vez que temos notícias de que as pessoas chegam na maioria dos postos de saúde e não tem remédios e chegam na maioria dos hospitais públicos e tem poucos médicos e não são atendidos. Também se acredita quando nossas crianças e nossos jovens não conseguem bom desempenho nas avaliações internacionais de educação, demonstrando que o nível de nosso sistema público de educação está aquém do ideal. Isto para não falar da segurança pública e da falta de dinâmica econômica que gera desemprego constante.
Na mesma linha o presidente da ONG Vigilantes da Gestão, Sir Carvalho, desabafou nas redes sociais que os "inocentes úteis" que vão para o front das manifestações coordenadas por sindicatos deveriam deixar de ser inocentes e passassem a discutir o papel do estado e a forma com que ele possa melhorar o seu funcionamento, deixando de ser um "estado falido".
As manifestações desses dois personagens reais deveriam atingir a todos os brasileiros e provocar uma forte reflexão sobre como podemos agir no sentido de contribuir para o abrandamento dos problemas sociais e políticos que, constantemente, passamos. Concordo com ambos. 
Concordo com Torquato Jardim quando ele afirma que todos os brasileiros estão envolvidos na corrupção, pois todos nós somos atingidos direta ou indiretamente pela corrupção. E o nosso envolvimento se dá pelo silêncio ou pela conivência, pois todos nós sabemos ou desconfiamos de onde e como ocorrem tais processos de corrupção, só que nos silenciamos e esperamos que outras pessoas ajam ou então somos coniventes. 
Concordo com Sir Carvalho quando ele afirma que o problema é de todos nós e que estamos sendo contaminados pela letargia, pois o voto não é respeitado e que praticar cidadania passou a ser considerado coisa de idiota. 
E, juntando as afirmações dos dois, podemos concluir que, pelo silêncio ou pela conivência, permitimos que os agentes políticos dominassem nosso país levando o certo a virar errado, o crítico a virar oposição e honesto a virar babaca.