OPINIÃO

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Poções e magias

Por Rogério Ribeiro, economista, professor universitário e vice-presidente para assuntos de controle social do Observatório Social de Apucarana

| Edição de 21 de outubro de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Enquanto militantes conservadores e progressistas se enfrentam violentamente nas redes sociais e até mesmo presencialmente a carruagem da economia continua seguindo em frente. Os níveis de imbecilidade e intolerância dos que defendem candidatura “A” ou “B” estão extremadas. Agora partidos e candidatos estão se desesperando e lançando diversas acusações uns contra os outros. Estamos vivenciando um período nojento e temerário. O que tudo indica é que a sociedade brasileira deverá escolher qual será o seu próprio sacrificador. 

As candidaturas que irão para o pleito derradeiro de escolha do novo Presidente da República e respectivas equipes não apresentam, de forma clara, suas propostas de enfrentamento do quadro econômico e social. Por conta do discurso superficial apresentado por ambos os lados a certeza que podemos ter é de que viveremos período difíceis nos próximos anos.
As expectativas para a área econômica nos próximos quatro anos não são nada favoráveis: a inflação e o câmbio deverão se manter nos níveis atuais, o crescimento do PIB não será robusto, o saldo da balança comercial deverá cair cerca de 20%, o investimento estrangeiro direto deverá aumentar cerca de 15% e a dívida líquida do setor público se elevará dos atuais 54% do PIB para algo em torno dos 61% do PIB. Com efeito, o déficit fiscal que assombra as contas públicas há alguns anos deverá persistir ao longo do próximo mandato presidencial.
Os candidatos prometem criar mais empregos, fazer a economia crescer, melhorar a educação e investir mais em saúde e segurança. Só não dizem como irão fazer isto. Talvez apelarão para poções mágicas. Uma campanha sem propostas factíveis, somente acusações, bravatas e devaneios ideológicos sem nenhuma demonstração de como irão colar o discurso na prática do dia-a-dia do nosso país.
Enquanto isto, no Brasil real o setor de serviços e as vendas no varejo crescem pouco em termos nominais, há uma previsão de redução em 6% na safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas para 2018, a inflação acelera em todas as faixas de renda e as contas públicas apresentam um déficit primário de R$ 58,6 bilhões no acumulado até agosto. Sobre o que acontece no Brasil real os candidatos não se posicionam, ficam somente com ilações.
Realmente teremos que esperar a utilização das poções mágicas da equipe econômica do governo que será eleito para o próximo mandato para podermos ver se as coisas melhoram. Os discursos de ambos os lados somente prometem mais despesas públicas quando o cenário atual indica que as receitas estão aumentando cerca de 2%, em termos nominais, contra um aumento de 11,7% das despesas. Combinado com isto há uma promessa de que não se aumentará a carga tributária. 
Pois bem, então podemos perguntar como conseguirão aumentar as despesas sem aumentar as receitas? Mais ainda: temos que perguntar como farão isto sem aumentar o déficit público e o agravamento da situação econômica nacional? Não acredito que nenhuma das equipes dos dois candidatos terão respostas coerentes com seus discursos para tais questionamentos. Deverão apelar para a magia.
Alguém será eleito e as suas práticas ideológicas, viscerais e comportamentais poderão agravar nosso quadro econômico e social. Cada um dos brasileiros já deve estar convicto de sua escolha e talvez não perceberam que nenhum dos candidatos será a alternativa de sensatez e equilíbrio que necessitamos. Mas, daqui a quatro anos teremos outra chance de melhorar as coisas para nosso país. Então, que venha 2022, sem poções e sem magias.