OPINIÃO

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Reflexões na crise

Por Gaudêncio Torquato, jornalista e professor universitário

| Edição de 07 de julho de 2020 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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O Covid-19 deixará um rastro de destruição sobre a Humanidade. Negócios serão aniquilados, empreendimentos deverão ser remodelados, o saber deixará de ganhar valiosos avanços, milhões de crianças perderão tempos preciosos na aprendizagem, a pobreza cobrirá o planeta com sua devastadora capacidade de aumentar as desigualdades sociais, a angústia e a depressão vestirão milhões, senão bilhões, de pessoas com o manto da tristeza. O planeta atrasará em muito seu ritmo de avanços. Há quem faça projeções mais otimistas, como essas que sinalizam descobertas revolucionárias na medicina, com a chegadas das vacinas, a integração solidária entre as Nações no esforço de encontrar armas eficazes para combater as doenças e seus surtos, maiores investimentos em saúde e no bem-estar das pessoas.
É razoável apostar, sim, em passos adiante. Mas não há como deixar de reconhecer o atraso na vida educacional de uma geração, obrigada a permanecer em casa, mesmo assistindo as aulas por meios virtuais. Aliás, esse ensinamento à distância, seja para crianças, jovens e adultos, deixa muito a desejar. Passar quatro horas ouvindo um ou dois professores, em sequência, ministrando aulas para uma plateia virtual, lendo seus escritos - mesmo bem fundamentados - é um exercício cansativo e pesaroso. Poucos prestam atenção ao pensamento do mestre, a interação é muito escassa, o diálogo, peça essencial na aprendizagem, se perde na cadência monótona do bombardeio mental. Imaginem o que significa o atraso de um semestre, de um ano, na vida de um estudante.
Milhões de micros, pequenos e médios negócios fecharão as portas. O pequeno empresariado tem pela frente o desafio de recomeçar, talvez em outras áreas, os seus afazeres. Reconstruir o que foi perdido. Remontar o que o bichinho microscópico corroeu. Os gigantescos conglomerados também sofrem, mas os grandes círculos de negócios sempre arrumam um jeito de perder aqui e ganhar ali, no jogo de oportunidades que eles tão bem dominam.
Mas volto os olhos aos imensos contingentes que pensam muito sobre o circuito de sua existência. Que sofrem em ver tantas injustiças, que se tomam de indignação contra a corrupção na política, que não se conformam com a facilidade como as massas são manipuladas, com os desvarios de governos, pessoas que têm grande dom de se expressar e pequena motivação para agir. Penso nos milhões que estão fora da mesa do consumo, padecendo sua fome em acampamentos em terras isoladas e devastadas por guerras, nos milhões de crianças recém-nascidas que não chegam a viver para compreender o que são e onde estão.
E aqui por nossas plagas, o que poderá acontecer? Se os tempos fossem normais, a hipótese se configuraria como verdadeira: Jair Bolsonaro não completaria o mandato. Mas em tempo de pandemia, qualquer ato político impactante semeará caos no país. A alternativa que resta é a pressão por mudanças.
Quanto às eleições de novembro, que os candidatos reflitam sobre seu discurso, sua maneira de se apresentar ao eleitorado e procurem realizar um ato de contrição. Sejam simples, modestos, honestos e sinceros. Amanhã será outro dia.