OPINIÃO

min de leitura - #

​ Seremos uma África?

Por Rogério Ribeiro, economista, professor universitário e vice-presidente para assuntos de controle social do Observatório Social de Apucarana

| Edição de 15 de abril de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

Fique por dentro do que acontece em Apucarana, Arapongas e região, assine a Tribuna do Norte.

Recentemente, em um curso, uma pessoa afirmou que o Brasil está se tornando uma África. O contexto da afirmação foi num debate sobre as condições sociais no país e sua relação com a gestão da política econômica, mais especificamente a política fiscal.

Não concordo que estamos nos tornando uma África. Os indicadores sociais não estão nos níveis desejados, porém as alterações ocorridas no curto prazo não são suficientes para alardear que nossa situação está muito grave. De forma mais amena poderíamos dizer que está inspirando cuidados.
A sensação que temos é de que as desigualdades sociais não estão diminuindo, pelo contrário, a sensação é de que está ocorrendo um empobrecimento da população brasileira ocasionada pelo aumento persistente do desemprego, pela inflação, juros reais elevados, baixo crescimento econômico e renda bruta estagnada.
De forma pragmática podemos afirmar que nas condições econômicas atuais é possível que os indicadores sociais piorem aumentando as desigualdades e o empobrecimento da população e gerando maior concentração de renda. Se somarmos isto à uma política fiscal irresponsável de sucessivos déficits públicos, aumento do endividamento e centralização do planejamento nos executivos federal, estaduais e municipais podemos nos preocupar sobre a possibilidade de convergência de nossos indicadores sociais aos níveis africanos.
Uma forma de tentar evitar que isto ocorra pode ser começada nas eleições deste ano, elegendo candidatos que tenham propostas firmes e claras para se reverter nossa situação fiscal. Só que dos pré-candidatos que se colocaram com interesse na presidência da República não conseguimos identificar propostas consistentes para se reverter o quadro econômico atual. Consequentemente não conseguirão reverter a tendência de piora dos indicadores sociais.
Se as pessoas analisarem as entrevistas, manifestações nas redes sociais e as propostas de políticas sociais que os pré-candidatos à presidência vêm alardeando constatamos um grande vazio de ideias. A maioria deles não apresentaram ideias e propostas coerentes e factíveis. Pelo contrário, as ideias e propostas de alguns deles são verdadeiros absurdos que poderão piorar o quadro econômico e social de nosso país.
A administração pública brasileira está passando por uma grande crise. Além do desajuste fiscal temos uma desesperança acerca das lideranças que estão se colocando como pré-candidatos. Não conseguimos identificar propostas de melhora que possam ser postas em prática. Basta fazermos uma avaliação das promessas dos candidatos que se elegeram nas últimas eleições. Não cumpriram quase nada. Até porque se tivessem cumprido estaríamos vivendo num país com indicadores semelhantes aos de países desenvolvidos da Europa.
Os candidatos eleitos presidente da República, governadores estaduais e prefeitos não conseguiram cumprir quase nada de suas promessas de campanha porque as finanças públicas estão comprometidas. A receita é, via de regra, insuficiente para cobrir as despesas, possui um alto nível de vinculação constitucional, endividamento crescente e forte comprometimento das receitas com pagamento de salários e encargos.
O cenário não poderia ser pior. Realmente não há dinheiro suficiente para fazer o que tem que ser feito. Isto sem falar na ineficiência do setor público. Se não acertarmos no voto teremos que concordar que podemos, no médio prazo, termos o agravamento de nossos indicadores sociais. Podemos nos tornar uma África? Se continuarmos elegendo candidatos que nada fazem de concreto para sociedade, acredito que sim.