CIDADES

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Superando o medo de dirigir

Fernanda Neme

| Edição de 15 de abril de 2018 | Atualizado em 14 de abril de 2018

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Para muitos uma tarefa simples, quase automática, o ato de dirigir pode se tornar um pesadelo.  A dona de casa Ariane Pitoni, 30 anos, chega a passar mal e suar frio quando o assunto é ir para o volante. Devido à falta de prática, mesmo tendo carteira de habilitação, o medo por dirigir foi se tornando constante na vida da apucaranense. “Tirei a carteira e no começo até pegava o carro do meu pai e do meu marido. O problema é que, com a falta de prática, comecei a ficar com muito medo e parei de dirigir”, conta. 

A situação melhorou quando que Ariane passou a conduzir um carro automático. Sem a necessidade de usar a embreagem, ela se sente mais confortável. “Eu não sei o que acontece porque às vezes consigo dirigir o carro automático, mas o manual ainda é um desafio para mim”, explica. 

Bibiana de Paula Ruiz, 31, tirou a carteira de habilitação há 12 anos, mas apenas no ano passado conseguiu enfrentar as ruas. Para superar o medo, ela procurou tratamento. “Depois de algumas técnicas de Programação Neurolinguística (PNL) e metas estipuladas no coaching eu tenho dirigido um pouco”, conta. 
Bibiana conta que o medo surgiu no processo para tirar a carteira de habilitação, mas foi pegando confiança durante as aulas. “No dia do teste no Detran eu estava tão confiante de que estava preparada. Que acabei esquecendo de colocar o cinto e reprovei. Fiquei muito arrasada, talvez pelo excesso de confiança que eu tinha nutrido, depois disso eu fiz o teste novamente daí já estava muito nervosa, deixei morrer na baliza”, recorda. 

Imagem ilustrativa da imagem Superando o medo de dirigir

Depois dos episódios, Bibiana deu um tempo e, após um ano, tentou novamente e passou no teste. “Mesmo com a carteira em mãos eu não tinha mais confiança e não me sentia competente para dirigir. Comecei a nutrir um medo que chega muito próximo de um pavor. Dirigi algumas vezes por extrema necessidade, com medo e tremendo”, ressalta. 
A gota d'água para Bibiana foi quando o carro morreu - o que nem é algo tão fora do comum para quem dirige -  com ela ao volante na companhia da irmã e um de seus filhos. “Depois disso eu nunca mais dirigi. No entanto, no ano passado comecei a fazer cursos na área de PNL e também iniciei cursos na área coaching. Coloquei como meta voltar a dirigir, com ajuda também de um amigo instrutor. Estou voltando aos poucos”, revela. 
Ariane e Bibiana não são estão sozinhas e fazem parte da estatística. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Trânsito (Abramet), dois milhões de brasileiros não dirigem por medo. As mulheres são a maioria e somam 75% desse número. 

Problema tem nome: amaxofobia
Nas últimas décadas as ruas e estradas de todo o mundo foram tomadas por um tráfego cada vez maior. Com mais veículos rodando, ocorrem mais congestionamentos, acidentes e as pessoas ficam mais estressadas e sem paciência. “Isso faz com que muitos motoristas iniciantes no trânsito sintam insegurança ao dirigir, por medo de errar ou de julgamento por algum erro”, explica o psiquiatra Júlio Dutra, de Apucarana.
As consequências, segundo médico, são muitas. Porém, uma delas tem chamado a atenção de pesquisadores e estudiosos a famosa “amaxofobia”, bem conhecida por muitos como o medo de dirigir. 
“As mulheres com idades entre 30 e 45 anos se destacam nas estatísticas pois a forma de como eram estruturadas através dos modelos familiares faziam com que elas vivessem uma vida independente do carro, já que dirigir era uma tarefa na maior parte das vezes masculina”, acrescenta. 
“Os homens também sofrem com o medo de dirigir, no entanto, têm muita dificuldade em aceitar este medo, na maioria das vezes em razão de uma sociedade extremamente machista e da rígida educação na infância”, ressalta. 
Dutra cita crises de ansiedade, pensamentos catastróficos relacionados ao que poderia acontecer, nervosismo, insegurança, taquicardia, tremores, sudorese são alguns dos sintomas de elevado impacto emocional negativo que remete a negação sobre a própria capacidade de dirigir.
Existem pessoas que conseguem conduzir um veículo, porém em pequenas regiões onde se sentem seguras, mas muitas se privam de fazer o que gostam devido ao pavor de dirigir. “Os tratamentos psiquiátricos e psicoterápicos com foco nos aspectos emocionais envolvidos no medo podem contribuir para a redução da ansiedade, favorecendo o resgate da autoconfiança, podendo oferecer alívio e melhora dos sintomas”, reforça.