POLÍTICA

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Dono da JBS diz que Temer deu aval à compra de silêncio de Cunha

Da Redação

| Edição de 18 de maio de 2017 | Atualizado em 17 de maio de 2017

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O dono da JBS, Joesley Batista, afirmou à PGR (Procuradoria-Geral da República) que o presidente Michel Temer (PMDB) deu aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) e do operador Lúcio Funaro, ambos presos na Operação Lava Jato. A informação foi divulgada pelo jornal “O Globo” ontem à noite. A denúncia envolve o deputado paranaense Rodrigo Rocha Loures (PMDB), que foi indicado por Temer para ajudar a “resolver o assunto”.
De acordo com a publicação, as informações fazem parte de uma delação de Joesley que ainda não foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O depoimento do empresário foi dado à PGR em abril e, no último dia 10, o conteúdo foi comunicado ao ministro do Supremo Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte.
Ainda de acordo com o jornal, a conversa entre Joesley e Temer teria acontecido no dia 7 de março no Palácio do Planalto. O empresário teria gravado a conversa com um gravador escondido.
Segundo a reportagem de “O Globo”, Joesley disse ter contado a Temer que estava pagando a Cunha e Funaro para ficarem calados. O presidente, segundo o empresário, responde: “Tem que manter isso, viu?”
A publicação também informou que a PF registrou ao menos uma entrega de R$ 400 mil para Roberta, irmã de Lúcio Funaro. Já o dinheiro para Cunha seria entregue a Altair Alves Pinto. Altair já fora apontado pelo operador Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, como o responsável por receber as propinas destinadas ao ex-deputado. Cunha teria agido a favor da J&F, holding que controla a JBS, em projetos de lei e no fundo FI-FGTS, que investiu mais de R$ 1 bilhão em empresas do grupo.

Imagem ilustrativa da imagem Dono da JBS diz que Temer deu aval à compra de silêncio de Cunha
Temer e Cunha: ligações perigosas (Foto: Folhapress)


O empresário disse ter pagado ao menos R$ 5 milhões a Cunha depois de sua prisão, e ainda devia mais R$ 20 milhões relativos à tramitação de uma lei que previa a desoneração de impostos no setor de frango.
Ainda de acordo com o relato de Joesley publicado por “O Globo”, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures para resolver “um assunto” da J&F. Depois, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil mandados pelo empresário.
A “pendência” da J&F com o governo, segundo Joesley, era uma disputa relativa ao preço do gás fornecido pela Petrobras à termelétrica EPE, que pertence ao grupo. Loures teria ligado para o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Gilvandro Araújo, para interceder pela J&F. Pelo serviço, Joesley teria oferecido a Loures uma propina de 5%, que teria sido aceita pelo deputado.
Depois, Joesley e Ricardo Saud, diretor da JBS, teriam acordado com Loures o pagamento de uma propina de R$ 500 mil semanais por 20 anos --o que totalizaria quase meio bilhão de reais. O deputado teria dito que levaria a proposta a alguém acima dele.
Ao menos uma entrega de R$ 500 mil a Loures, feita por Saud, teria sido flagrada pela PF em São Paulo.
Joesley, Saud e mais cinco pessoas da JBS devem pagar uma multa de R$ 225 milhões, segundo “O Globo”.
Procurada, a PGR (Procuradoria-Geral da República) disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se manifestará sobre eventuais acordos de colaboração que ainda não foram homologados. Temer e os demais citados não haviam se manifestado até o fechamento desta edição.

Aécio Neves também foi gravado 
 
O dono da JBS, Joesley Batista, afirmou à PGR (Procuradoria-Geral da República), ainda de acordo com “O Globo”, que também gravou o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, lhe pedindo R$ 2 milhões. O dono da JBS entregou à PGR um áudio em que o tucano pede a quantia sob a justificativa de pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato.
O momento da entrega do dinheiro a um primo de Aécio foi filmado pela Polícia Federal. A PF descobriu que a quantia foi depositada numa empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG). 
O diálogo gravado durou cerca de 30 minutos. Aécio e Joesley se encontraram no dia 24 de março no Hotel Unique, em São Paulo. Quando Aécio citou o nome de Alberto Toron, como o criminalista que o defenderia, não pegou o dono da JBS de surpresa. A menção ao advogado já havia sido feita pela irmã e braço-direito do senador, Andréa Neves. Foi ela a responsável pela primeira abordagem ao empresário, por telefone e via WhatsApp (as trocas de mensagens estão com os procuradores). As investigações, contudo, mostrariam para a PGR que esse não era o verdadeiro objetivo de Aécio.
O pedido de ajuda foi aceito. O empresário quis saber, então, quem seria o responsável por pegar as malas. Deu-se, então, o seguinte diálogo:
— Se for você a pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança — propôs Joesley.
— Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara — respondeu Aécio.
O presidente do PSDB indicou um primo, Frederico Pacheco de Medeiros, para receber o dinheiro. Fred, como é conhecido, foi diretor da Cemig, nomeado por Aécio, e um dos coordenadores de sua campanha a presidente em 2014. Tocava a área de logística.
Quem levou o dinheiro a Fred foi o diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, um dos sete delatores. Foram quatro entregas de R$ 500 mil cada uma. A PF filmou uma delas.
No material que chegou às mãos de Fachin na semana passada, a PGR diz ter elementos para afirmar que o dinheiro não foi repassado a advogado algum. As filmagens da PF mostram que, após receber o dinheiro, Fred repassou, ainda em São Paulo, as malas para Mendherson Souza Lima, secretário parlamentar do senador Zeze Perrella (PMDB-MG).
Mendherson levou de carro a propina para Belo Horizonte. Fez três viagens — sempre seguido pela PF. As investigações revelaram que o dinheiro não era para advogado algum. O assessor negociou para que os recursos fosse parar na Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, de Gustavo Perrella, filho de Zeze Perrella.Não há, portanto, nenhuma indicação de que o dinheiro tenha ido para Toron

Deputados pedem impeachment 
do presidente 
Deputados federais pediram o impeachment do presidente da República, Michel Temer (PMDB), no plenário da Câmara na noite de ontem após a revelação de um áudio em que o peemedebista supostamente pede para comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). 
O deputado Afonso Florence (PT-BA) foi um dos parlamentares que gritaram pelo impeachment de Temer. Segundo ele, "se for confirmada a veracidade do conteúdo [da gravação], acabou o governo".
"Se isso é verdade, a gravação tem de ser verificada, mas isso incinera o governo, a reforma da Previdência. [Tem de ter] o impeachment imediatamente, fica insustentável. O processo tem de tramitar, mas é inexorável", afirmou.
Quando o grupo de cerca de 20 parlamentares começou a gritar pelo afastamento de Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerrou a sessão e se retirou do plenário. Ainda ontem à noite o deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ) protocolou o primeiro pedido de impeachment contra o presidente