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Governo cria força-tarefa para investigar jogo que incentiva suicídio de adolescentes

Vanuza Borges

| Edição de 20 de abril de 2017 | Atualizado em 19 de abril de 2017

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O desafio virtual denominado ‘Baleia Azul’ virou um dos assuntos mais comentados nesta semana nas redes sociais, principalmente após o registro de cinco tentativas de suicídio de adolescentes na madrugada de anteontem em Curitiba. O jogo, que tem como objetivo final levar o adolescente a pôr fim na própria vida, foi tema de reunião de emergência ontem entre as secretarias de Segurança Pública, Educação e Saúde. Na ocasião, as pastas traçaram estratégias para combater o jogo e anunciaram uma força-tarefa para investigar casos de jovens que procuraram assistência hospitalar nos últimos dias por conta de atos de automutilação e outros ferimentos autoprovocados.
Ontem à tarde, o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) deu início à investigação para apurar a relação dos casos com o desafio online. Na capital paranaense, outras três situações de automutilação foram registradas nesta semana. Casos do gênero são investigados também em Minas Gerais, Mato Grosso, Paraíba e Rio de Janeiro. O que chama a atenção é que as tentativas de suicídio, suicídios e automutilações ocorrem no momento que o jogo, que surgiu como fake news na Rússia em 2013, ganha expressividade nas redes sociais no Brasil.
Na área de segurança, os trabalhos envolvem o Núcleo de Proteção a Criança e ao Adolescente Vítimas de Crime (Nucria), que vai fazer o primeiro atendimento, o Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber) e o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope). O secretário da Segurança Pública, Wagner Mesquita, explica que em cidades onde não há unidades da força-tarefa, a comunicação do crime deve ser feita na delegacia mais próxima, que vai direcionar os casos. “O trabalho da polícia é de identificar e responsabilizar indivíduos que possam estar recrutando jovens e administrando jogos por redes sociais, incitando ao suicídio”, disse.
A Secretaria da Educação emitiu um comunicado para que educadores da rede pública estadual reforcem os cuidados quanto à mudanças de comportamento dos estudantes - como alterações de humor, de rotina, vestimenta - ou o aparecimento de marcas no corpo e mesmo de tatuagens.
A secretária da Educação, professora Ana Seres, esclarece que as escolas já estão preparadas para lidar com situações inusitadas e de risco, não só como no caso o jogo Baleia Azul. “Pedagogos, professores, funcionários e diretores sabem que, ao identificar qualquer comportamento estranho num estudante, devem ser tomadas providências”, afirma.
ALERTA
A Secretaria da Saúde determinou que hospitais, prontos socorros, unidades de saúde e demais serviços de atendimento médico no Paraná redobrem a atenção em situações de automutilação e uso inadequado de medicamentos por crianças e adolescentes. Uma nota técnica da secretaria vai orientar a conduta dos profissionais da saúde frente a este tipo de situação. (COM AEN)

Pais devem conversar mais com os filhos
Além do desafio da ‘Baleia Azul’, a série americana ‘13 Reasons Why’, baseada no livro de mesmo nome de Jay Asher, lançada no dia 31 do último mês, também aborda a temática, colocando em evidência a problemática do suicídio na adolescência. Diante do cenário, especialistas alertam para o risco do desafio e também, de modo geral, para o esvaziamento dos relacionamentos atuais, inclusive entre pais e filhos.
No caso propriamente da ‘Baleia Azul’, psicóloga Amanda Andrade avalia que é mais um jogo perigoso, que está surgindo nas redes sociais, colocando em risco os adolescentes. “Este jogo vem preocupando os pais e a escolas por propor 50 desafios aos adolescentes e sugerir o suicídio como última etapa”, frisa.
Especialista em Educação Especial e Saúde Mental, Amanda aconselha que os pais e as escolas conversem sobre o tema com o objetivo de esclarecer para os adolescentes os riscos que o desafio esconde.
“Os pais devem ficar atentos às mudanças de comportamentos e também ao conteúdo acessado pelos adolescentes na internet, porém, deve ser algo sutil, participativa, e não abusiva. Os pais devem demonstrar interesse sobre o que eles fazem”, frisa.

Momento de reflexão
A psicóloga Dayene Gatto Altoé, tutora de psicologia da Residência Médica Multidisciplinar, da Autarquia Municipal de Saúde (AMS), de Apucarana, avalia que o um dos principais questionamentos que deve ser feito é porque o suicídio é alternativa para algumas pessoas. “Em que nível de desamparo, desesperança, que esse sujeito tem? Nem todo mundo que se mata queria morrer. Às vezes, só não percebeu recursos nela nem em no convívio dela, para enfrentar os problemas de outro jeito, de uma forma mais positiva, onde pudesse se sentir pertencendo a alguma coisa boa ou que algo bom pudesse acontecer com ela”, diz.
Tanto a série quanto o jogo, segundo a psicóloga, nos fazem refletir sobre o nosso projeto atual de humanidade, que está baseado na individualidade e na competitividade, e tem se mostrado fracassado. “Está ocorrendo um esvaziamento dos relacionamentos. Então, antes de olhar ou culpabilizar somente o adolescente, é preciso olhar para a relação entre pais e filhos”, avalia. A psicóloga orienta os pais a não só monitorar os filhos, mas viver mais com eles. Como exemplo, ela cita para que assista filmes junto ao invés de simplesmente ver o que está assistindo. E com essa vivência, criar laços de afeto, companheirismo e o sentimento de pertencimento.Além disso, ela aconselha abrir espaço para que o adolescente expresse o que pensa sobre a vida, sobre o futuro e também tenha liberdade para fazer escolhas, inclusive profissional e de gênero.