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Sobrevivente relata horas de luta e espera nas águas geladas do Ivaí

DA REDAÇÃO

| Edição de 22 de julho de 2021 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Horas de luta contra as águas do Ivaí, o frio intenso e o desespero e uma profunda gratidão pelos pescadores que os encontraram quase seis horas depois do acidente, já em terra firme. O relato é de Marcelo de Carvalho da Silveira, 26 anos. Ele, a esposa Jéssica, 26 e o filho João Vitor, 3 anos, são sobreviventes do pior acidente fluvial registrado na região que resultou na morte de pelo menos quatro pessoas no último domingo em São João do Ivaí. 

Em relato concedido ontem, na base do serviço de socorro localizada rio acima de onde os primeiros corpos começaram a ser resgatados, Marcelo contou como o acidente aconteceu. Segundo ele, o passeio de barco foi uma insistência das crianças. Marcelo é primo de Adalberto Fernandes Galice – que estava com os dois filhos, Nicolas e Sophia – e tinha conhecido o dono barco, o ivaiporãense Alberony Menegassi de Souza, no dia do acidente. A esposa de Alberony, Patrícia, e a filha Heloísa também embarcaram. O passeio seguia tranquilo até que o barco se aproximou do Salto do Takaki. “Estávamos devagar no rio, só que o motor era fraco e chegando perto do salto, a mulher do dono do barco ficou desesperada, falou que o barco ia descer e pulou na água para segurar o bote conta, acrescentando que o dono do barco e ele também pularam na água. No relato, ele conta que ainda voltou para dentro da embarcação para tentar ligar o motor que havia desligado. O barco acabou sendo arrastado. “Bateu de bico e já virou com todos dentro, quando virou não vimos mais nada”, conta. 
Marcelo conta que após a embarcação virar, ele viu o dono do barco tentando salvar as demais pessoas. “Ele tentou muito, não tenho o que falar dele”, afirma. Após o barco virar, Marcelo conseguiu se juntar a esposa e o filho. Marcelo calcula que a família seguiu cerca de 700 metros lutando contra a correnteza. “Eu estava afundando, ela se afundando, até que Deus colocou o barco em nosso caminho. A  gente já tinha desistido, mas o barco apareceu virado e nós seguramos”, relata. Segundo ele, com dificuldades, a família conseguiu desvirar o barco, que ficou parcialmente submerso. “Nós ficamos mais de duas horas esperando, meu filho sofrendo muito. Decidimos descer do barco para tirar a água de dentro, desviramos ele, fomos tirando água com a mão até que ele subiu um pouco e remamos com a mão até chegar na margem”, conta. 
Após conseguir sair do rio, a família novamente viveu momentos de tensão, por conta do risco de hipotermia. A noite de domingo foi uma das mais frias do ano na região. “Quando entramos na mata, no milharal, andamos por uns 400 metros, mas meu menino sofreu convulsão, estava delirando. Fizemos uma cama no meio do milho, mas não estava resolvendo, até que, graças a Deus, apareceram dois anjos, dois pescadores, eles estavam com lanternas pra cima e gritavam e nós respondemos”, diz.
Marcelo lembra que um dos pescadores enrolou o filho em uma blusa e correu para salvar a vida do menino. “Um dos pescadores disse deixa eu salvar a vida dele, enrolou meu filho em uma blusa e correu. O sobrinho dele, um outro pescador, deu a roupa dele pra gente até que chegou outra embarcação. Se não fossem os pescadores, nós não estaríamos vivos”, afirma
O sobrevivente contou que o barco virou por volta das 16h30 e que foram resgatados por volta das 22h30. “Nós ficamos 3 horas dentro da água. O dono do barco não teve culpa, ele não queria chegar perto da correnteza, ele fez de tudo para nos salvar, não tem culpado”, ressalta Marcelo. (SILVIA VILARINHO)