A Cooperativa de Catadores de Papel de Apucarana (Cocap), atualmente envolvida em uma série de questionamentos e alvo de uma investigação do Ministério Público, enfrenta uma nova crise. Nova crise porque a entidade que atualmente agrega cerca de 60 cooperados sempre está na corda bamba, o que não deixa de ser um reflexo das dificuldades enfrentadas por todos os catadores de papel dentro da engrenagem de como a reciclagem é feita hoje no Brasil.
Criada há mais de 15 anos, a cooperativa já teve que recomeçar do zero duas vezes depois que incêndios de grandes proporções destruíram todo o patrimônio e maquinário dos catadores, além de enfrentar anos de resistência da administração municipal até seu ter papel dentro do processo de limpeza pública do município devidamente reconhecido. A Cocap só passou a receber do município pelo serviço prestado em 2014.
Atualmente, o desafio enfrentado pela cooperativa é exatamente se adequar as exigências legais inerentes ao seu papel de prestadora de um serviço que é custeado com dinheiro público, o que implica nos princípios básicos de legalidade e transparência. Ou seja, a Cocap precisa se adequar a regras de segurança de trabalho e legislação ambiental, além de seguir todo o trâmite burocrático de prestação de contas.
Ou seja, a cooperativa precisa se tornar mais profissional para continuar se mantendo em atividade, o que, de fato, é um desafio para os cooperados, formados, majoritariamente, por pessoas de pouca instrução formal.
Do modo como é formatado o sistema de reciclagem no Brasil – e devido as condições socioeconômicas do País – o catador é um agente fundamental no processo de reciclagem e o modelo de cooperativa é o mais utilizado como forma de organizar o setor.
As dificuldades enfrentadas pela Cocap são as mesmas enfrentadas por várias cooperativas no país, que muito recentemente, começou a incluir a reciclagem e consequentemente os catadores de papel dentro da política de resíduos sólidos. Para se ter uma ideia, o reciclador só teve reconhecida legalmente sua atividade profissional pelo Ministérios do Trabalho e Emprego em 2002.
Com dificuldades ou não, é preciso reconhecer a importância do trabalho prestado pela cooperativa que é um dos agentes das responsáveis por tornar Apucarana uma referência em coleta seletiva. São poucos municípios do mesmo porte que podem apresentar o mesmo histórico de adoção sistematizada - ainda que com suas falhas - de coleta seletiva de lixo reciclável.
É preciso manter este histórico e, mais que isso, fortalecer as conquistas do município em relação as exigências do Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Profissionalizar a coleta é uma necessidade.
OPINIÃO
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