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Orgânicos avançam na região

Renan Vallim e Ivan Maldonado

| Edição de 12 de agosto de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Na contramão do Congresso Nacional, que discute a ampliação do uso de agrotóxicos na agricultura, os produtos orgânicos ganham cada vez mais espaço na mesa do brasileiro. Na região, já são 191 propriedades certificadas, cultivando sem o uso de adubos químicos e pesticidas. De acordo com especialistas, a técnica é benéfica tanto para produtores quanto para consumidores.

Imagem ilustrativa da imagem Orgânicos avançam na região


De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, os 26 municípios do Vale do Ivaí mais Arapongas somavam 173 propriedades cultivando orgânicos. Em um universo de 21,8 mil propriedades, os orgânicos formavam apenas 0,8% do total de estabelecimentos rurais da região.
Cerca de 11 anos depois, no Censo Agropecuário de 2017, divulgado há cerca de duas semanas, o número de estabelecimentos produzindo sem agrotóxicos avançou 10,4%, passando para 191. Este número corresponde a 1,3% do total de 14,9 mil propriedades existentes.
É importante destacar que, em 2006, o cultivo de orgânicos ainda não era regulamentado. Sendo assim, diversos produtores que eram considerados orgânicos deixaram de ser a partir do ano seguinte. Hoje, o processo de certificação de produtos é obrigatório, fazendo com que o aumento no número de produtores seja considerado expressivo.
“Hoje, o mercado de orgânicos está em plena expansão, com grande interesse dos órgãos governamentais em incentivar a prática, como a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). O consumidor está cada vez mais interessado em consumir um produto mais natural, com mais segurança alimentar. Desta forma, os produtos orgânicos são vantajosos para o produtor, pois têm valor agregado, o que eleva os ganhos”, afirma Cristovon Videira Ripol, gerente regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Apucarana.
Na região, Arapongas se destaca. São 92 produtores orgânicos que formam 16,2% do total de estabelecimentos rurais do município, disparado o maior índice da região. Em seguida aparece Apucarana, com 24 propriedades orgânicas, e Borrazópolis, com 13. “Arapongas é um exemplo interessante de auto-gestão. Há um grupo de produtores que se organiza e se auto-capacita no cultivo sem agrotóxicos”, diz Cristovon.
O índice regional de 1,3% de estabelecimentos orgânicos é o mesmo da média nacional, mas fica abaixo dos 2,3% do Paraná. “Hoje falta produto orgânico no mercado. A demanda é tão grande que a venda é certa. Este é um dos nossos desafios. Ainda não há um corpo técnico na Emater para orientar os produtores, mas isto está para mudar. Recentemente, foram feitas novas contratações e, certamente, boa parte estará alinhada à orientação e acompanhamento de produtores que já cultivam alimentos orgânicos ou que pretendem entrar neste nicho”, afirma o gerente regional.

Produtos ganham espaço entre consumidores
A alimentação orgânica avança inclusive nos restaurantes. Giovani Bruno Barbosa é proprietário de um estabelecimento que é especializado em receitas saudáveis e naturais em Apucarana. “A opção por ingredientes orgânicos sempre esteve no plano estratégico da empresa, no intuito de fomentar a agricultura familiar existente na região, gerando um impacto social positivo que vai além do serviço de pratos saudáveis”, destaca ele.
Giovani afirma que, de tudo o que entra no estabelecimento, cerca de 30% é orgânico. Mas o número poderia ser ainda maior. “Sem dúvida houve um aumento na disponibilidade destes ingredientes nos últimos anos, sem grande diferença de preço em relação aos da agricultura convencional. Hoje, os orgânicos não estão mais restritos a uma feira ou estabelecimentos comerciais específicos. Entretanto, a produção local ainda tem dificuldades de atender a demanda do mercado”, destaca.
O restaurante, aberto há três anos, recebe muitas pessoas interessadas em alimentos produzidos sem agrotóxicos. “O público demanda fortemente a utilização de produtos orgânicos na preparação dos pratos. A maioria dá preferência ao orgânico. No entanto, o número de clientes que não comem se não for um produto orgânico é baixo, menos de uma a cada 100 pessoas”, diz.

Variação de produtos é alta
Cada vez mais agricultores tem adotado a produção de orgânicos em busca de custo menor e mais respeito à natureza. Exemplo disso é a Fazenda Urutaguá, em Lunardelli. Em 86 hectares, a propriedade produz mandioca, café, palmito pupunha, abacate, manga e açaí, além de um rebanho de caprinos. A novidade deste ano é o início da plantação de trigo orgânico, em 10 hectares. Tudo apenas com insumos naturais.
De acordo com Ellen Rubia Diniz, coordenadora do curso de agronomia do campus de Ivaiporã do Instituto Federal do Paraná (IFPR), para conseguir o selo orgânico, que ajuda nas vendas, muitos agricultores estão adotando a certificação. “Somente no último ano, quatro agricultores parceiros do campus, do Assentamento 8 de Abril em Jardim Alegre, conseguiram a certificação. Outros sete já estão em processo de transição”, afirma. 
Segundo Ellen, existe um mito que a prática agroecológica é mais difícil que a convencional. “Para adotar práticas agroecológicas, o produtor vai ter que estudar, fazer cursos, vai ter que gastar um pouco mais de tempo para conseguir esse conhecimento. Mas, quando ele aprende, percebe que é bem mais fácil e mais vantajoso”, diz. 
O casal Nilza Maria e João Batista dos Santos é pioneiro na produção de orgânicos na região. Eles possuem certificação há nove anos, em uma pequena propriedade com menos de dois hectares na comunidade Brasinha, em Jardim Alegre. Na propriedade, o casal produz uma variedade de verduras e frutas orgânicas, tais como, morango, mamão, manga, abacate, rúcula, abobora, alface, couve, espinafre, manjericão, abóbora e repolho, além de mandioca e grãos como milho, café e feijão.
“Não foi fácil conseguir a certificação, mas está valendo a pena. Tem que se dedicar. É um desafio, mas me sinto feliz por estar trabalhando a favor da natureza”, relata Nilza.