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Força de trabalho envelhece na zona rural

Renan Vallim e Ivan Maldonado

| Edição de 21 de abril de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Em busca de melhores oportunidades, os jovens têm saído do campo, deixando o trabalho rural para os mais velhos. Com isto, mais da metade dos funcionários da agricultura na região tem mais de 40 anos, média muito acima da registrada entre os trabalhadores urbanos. Em quatro cidades, agricultura tem como principal faixa etária os trabalhadores entre 50 e 64 anos.

Imagem ilustrativa da imagem Força de trabalho envelhece na zona rural

De acordo com dados de 2016 da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), os 26 municípios do Vale do Ivaí mais Arapongas tinham, somados, 102.325 trabalhadores com carteira assinada. Destes, a principal faixa etária era de 30 a 39 anos, com 28,1%. Trabalhadores acima dos 40 anos representavam 40,4%.
Porém, na agropecuária, estes índices são diferentes. A principal faixa etária está entre os 40 e os 49 anos: 1.632 funcionários, representando 28,4%. Ao todo, 52,6% (3.017) dos pouco mais de 5,7 mil trabalhadores no campo possuiam mais de 40 anos.
O envelhecimento da força de trabalho na zona rural perde apenas para o setor de administração pública, que tem 60% dos seus postos ocupados por trabalhadores com mais de 40 anos. A principal faixa etária deste setor, que é entre 40 e 49 anos, ocupa 30,3% de todos os cerca de 13 mil trabalhadores. Entre os setores que mais empregam, apenas a agropecuária e a administração pública têm a maior parte dos funcionários com mais de 40 anos.
Entre as 27 cidades da região, o envelhecimento dos trabalhadores do campo é mais forte em Apucarana, Bom Sucesso, Cambira e Jandaia do Sul. Nestes municípios, a faixa etária com maior número de postos de trabalho no setor está entre os 50 e os 64 anos. Em Apucarana, dos 421 funcionários no ramo agropecuário, 123 estão nesta faixa etária, o que representa 29,2%.
Já em Bom Sucesso, 29% das 162 pessoas registradas como trabalhadores rurais têm entre 50 e 64 anos, o que equivale a 47 funcionários. Em Cambira, a porcentagem é de 27,4%, sendo 23 pessoas de um universo de 84 trabalhadores do setor. Em Jandaia do Sul são 33 postos de trabalho ocupados por pessoas entre 50 e 64 anos, o que representa 37,5% de um total de 88 trabalhadores.
O gerente regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Apucarana, Cristovon Videira Ripol, afirma que o êxodo de jovens do meio rural tem a ver com rentabilidade no campo. “Hoje, não há um foco em culturas que têm densidade de renda, ou seja, que apresentam bom retorno em espaços pequenos, como a fruticultura, a olericultura, o leite e a agroindústria. A concentração no cultivo de grãos como a soja e o milho, que precisam de grandes áreas e alto investimento em maquinário para resultar em grande rentabilidade, não gera empregos. Com isto, o jovem vai embora para a cidade em busca de oportunidades”.
Ele acredita que culturas com densidade de renda têm a capacidade de atrair os jovens. “Temos vários exemplos de sucesso em outros lugares do Brasil que trabalharam esta questão”, lamenta.

Trabalho complementa aposentadoria na região
Segundo Donizete Pires, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ivaiporã, geralmente os jovens deixam o campo para estudar nos centros urbanos e nunca mais retornam para viver no campo. “Boa parte desse pessoal assalariado que está trabalhando na zona rural já está aposentado. Como geralmente a aposentadoria é pequena, ele precisa continuar trabalhando para conseguir manter a família”, relata.
Exemplo disso é o trabalhador rural Mauro Bavato, 70 anos, de Ivaiporã. Mesmo aposentado, ele trabalha em uma fazenda no distrito de Alto Porã, onde realiza serviços de capina. “O salário da aposentaria é de R$ 954 e dá para remédio e para comer. Hoje eu tenho um carrinho, minha casinha no patrimônio e para manter isso preciso continuar trabalhando”, relata. A esposa de Bavato também recebe um salário de aposentadoria. 
Apesar da idade avançada, Bavato afirma ter muita disposição e diz que gosta do que faz. “Eu fui contratado para roçar grama no pátio e das casas da fazenda. Me sinto muito bem, um pouco de canseira até porque a idade está meio alta. Chega dia em que não tem nada para fazer, eu não vou ficar aqui parado. Vou para a roça, fico carpindo, catando pedra, o que tiver”, enfatiza.
O produtor rural Adir Salla confirma a dificuldade de se encontrar trabalhadores, principalmente jovens, que se disponham a trabalhar e morar no campo. “Se a pessoa tiver alguma qualificação, ela não vai querer morar na zona rural. A cidade dá mais conforto, no feriado ele não trabalha, na cidade tem internet e a rapaziada quer isso hoje em dia. Se for para trabalhar com maquinário é um pouco mais fácil de encontrar. Até porque ele vai continuar morando na cidade e só vai para a roça para trabalhar”.