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Sobreviventes da polio

Da redação

| Edição de 22 de julho de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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O advogado Orlando Miras, 48 anos, de Apucarana, faz parte de uma estatística encerrada no passado, mas que volta a assustar. Ele é uma das 26 mil vítimas da poliomielite, a chamada paralisia infantil, doença que foi erradicada em 1989 no país após deixar sequelas em milhares de pessoas, hoje na idade adulta.

Imagem ilustrativa da imagem Sobreviventes da polio


O advogado contraiu a doença aos 7 meses e perdeu os movimentos das pernas.  Mesmo com apoio da família, o apucaranense conta que não foi fácil enfrentar as sequelas da doença.  Ele destaca que aprendeu a se adaptar e chegou enfrentar a rejeição de algumas pessoas. Porém, agora vê que o preconceito com deficientes físicos diminui. “Vejo que mudou um pouco a questão de acessibilidade e as pessoas reconhecerem que o deficiente físico é normal, mas que tem suas limitações e precisam da compreensão de todos”, acrescenta. 
Para o advogado, a acessibilidade ainda é um problema. “Achar vagas é muito difícil. As lojas não oferecem rampas de acesso e as calçadas quebradas atrapalham bastante a locomoção de nós, deficientes”, ressalta. 
A queda nos índices de vacinação fez o renascer o medo da poliomielite e gerou um alerta do Ministério da Saúde. O país teve 26 mil casos de pólio de 1968 a 1989, mas não registra novos casos há 30 anos. No entanto, a preocupação do ministério se justifica por ao menos três motivos: a circulação do vírus em 23 países nos últimos 3 anos; o surgimento de um caso suspeito da doença na Venezuela em junho; e o efeito devastador da doença no país antes de sua eliminação, graças à vacina. Em julho, mais de 300 municípios do brasileiros foram notificados por registrarem índices de imunização da doença inferiores a 50%.
Maria Iris Golfeto, 49, que hoje mora em Apucarana, também foi vítima da falta de eficiências das campanhas de vacinação. Ela morava na zona rural de Toledo no oeste do Paraná, foi diagnosticada com a doença. Iris tinha pouco mais de um ano e perdeu o movimento dos membros inferiores. “Como as campanhas de vacinação eram muito espaçadas, acabei sendo atingida”, recorda. Na época, segundo Iris, a região onde morava enfrentou uma epidemia de polio e sarampo. Das 32 crianças que entraram no hospital junto com ela, apenas 13 sobreviveram, mas com sequelas.
Sobre a vacinação, Iris não tem dúvida da extrema importância de a dose ser aplicada nos primeiros dias de vida da criança. “Aprendi com a vida que devemos construir ‘pontes e não muros’. Então, por que não prevenir? Minha mãe foi a pessoa que mais me incentivou e esteve ao meu lado em todos os momentos. Garanto que se na época tivessem as campanhas que temos agora, ela transporia qualquer barreira para chegar em um ponto de vacinação. Agora, a pessoa tem tudo na mão e deixa para depois?”, reforça. 
Iris se apegou aos estudos e se formou em administração pública e também fez uma pós-graduação na mesma área. Há 17 anos, ela trabalha na Sanepar como técnica administrativa e trabalho no setor de manutenção de redes. Casada há 26 anos com Edson Golfeto, ela tem dois filhos. “Sempre tive muito apoio da minha família e de meus amigos. Sou muito grata por tudo”, complementa. 

“Se eu tivesse tomado vacina seria tudo diferente”
Outra vítima da poliomielite, é a funcionária pública Eidiana Cristina Bernardes Silva, 42. Ela foi diagnosticada quando tinha quase um ano. “Minha mãe conta que não tinha campanha na época e que tentou achar vacina, mas não tinha. Tudo começou quando tive uma febre muito forte e não conseguia mais firmar as pernas”, recorda Eidiana, que passou por fazer três cirurgias nas pernas quando ainda era criança. 
Formada em pedagogia, ela trabalha como assistente na Autarquia Municipal de Saúde. “Sou completamente a favor da vacinação. Os pais deveriam ser mais cobrados em relação a carteira de vacina”, defende. 
Sobre a aceitação das sequenas, a funcionária pública diz que na juventude foi difícil. “Foi difícil a aceitação na fase da adolescência, mas enfrentei a barreira preconceito. Hoje não sinto mais problema, trabalho, sou casada e concursada”, explica. Em relação a pensar se tivesse tomado a vacina, Eidiana acredita que sua vida teria sido bem diferente. “Se eu tivesse tomado vacina seria tudo diferente. Por exemplo, tenho fascinação por sapatos, mas uso órteses e sapatos ortopédicos. A gente acaba deixando algumas coisas de lado por causa da deficiência”, acrescenta. 

Entenda 
a doença
Poliomielite é uma doença viral que pode afetar os nervos e levar à paralisia parcial ou total. Apesar de também ser chamada de paralisia infantil, a doença pode afetar tanto crianças quanto adultos.
A poliomielite foi praticamente extinta em países industrializados com a vacinação de crianças, inclusive no Brasil, onde a vacina contra a doença foi incorporada à caderneta de vacinas obrigatórios. Mas o vírus causador, no entanto, ainda pode ser encontrado em países da África e da Ásia.
De acordo com o Ministério da Saúde, o último caso de poliomielite registrado no Brasil aconteceu em 1989. Atualmente, a cobertura vacinal brasileira contra pólio é acima dos 95% - considerada um exemplo para o restante do mundo.
No mundo todo, o cenário da doença também melhorou radicalmente. O número de casos da doença em todo o globo caiu 99% desde 1988, passando de 350 mil para 406 notificados em 2013, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).