OPINIÃO

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Sombra, água fresca e empreendedorismo

Eden Wiedemann

| Edição de 19 de julho de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Desprezando a máxima de que se conselho fosse bom se venderia, eu costumo dar um de graça sempre que ouço alguém falando que vai empreender para ser seu "próprio chefe" ou para ter uma vida diferente. Veja, sua vida vai mudar sim, mas não do jeito que imagina. Você ganhará outros dirigentes como investidores, sócios e o governo, que vai morder uma boa parte de tudo que você ganha.

Minha vontade de empreender não veio com o objetivo de ter uma vida mais tranquila, longe disso! Porém, confesso que, sendo publicitário e acostumado a trabalhar todo dia até altas horas, cheguei a acreditar que estar à frente de uma startup permitiria me organizar melhor para ter mais tempo para mim e minha família ou tomar decisões que julgasse certas, sem precisar ser tão racional ao ponto de parecer insensível.
O plano era colocar o nosso produto na rua em seis meses e, em um ano, já não necessitar recorrer a investidores para pagar as contas, melhorar e aumentar o time. Não queria apenas focar nas entregas do dia a dia e sim, ter a oportunidade de estudar novas tecnologias e oportunidades, em prol do meu empreendimento e da minha vida pessoal.
Contudo, como dizem, "nenhum plano sobrevive ao primeiro contato com o inimigo". Os primeiros atrasos, o entendimento de que o tempo de maturação do negócio tinha sido mal calculado e o fluxo de caixa abaixo do planejado começaram a cobrar seu preço. Para superar as dificuldades, o trabalho se multiplicou.
Passar tempo com a família às vezes pode ser um luxo, você vai precisar correr para manter a roda girando. Não dá para diminuir o ritmo. As contas têm que fechar, fornecedores precisam ser pagos, colaboradores precisam receber em dia, impostos não esperam. Enquanto as pessoas dormem, eu analiso durante a madrugada, todos os cenários onde um cliente X não paga ou um projeto Y cai, avaliando possibilidades de gerar caixa sem precisar diluir a participação.
Investidores cobram resultados. Funcionários exigem planos de carreira. Filhos solicitam atenção. O governo reivindica a parte dele do nosso lucro. Quando temos uma empresa pequena e enxuta, é preciso atenção a inúmeras coisas diferentes e isso vai desde manter um frigobar abastecido na área de desenvolvimento até escolher um hotel que permita um custo menor com viagens, passando por autorizar um seguro para computadores enquanto reviso, corrijo e assino contratos. Isso tudo sabendo que sempre serei o último a receber, se sobrar dinheiro para isso.
Isso tudo deve te desestimular? Não, não deve! É necessário crescer, vencer as adversidades e trabalhar muito. Não há sombra e água fresca em ser dono da sua própria empresa. Se quer rotina e tranquilidade foque em sua carteira de trabalho, é a dica que posso dar. Trabalhe enquanto eles dormem, estude quando eles se divertem, lute enquanto eles descansam e depois viva o que eles sempre sonharam.