REVISTA UAU

min de leitura - #

Vacinas na mira de fake news

redação

| Edição de 29 de maio de 2019 | Atualizado em 28 de maio de 2019

Fique por dentro do que acontece em Apucarana, Arapongas e região, assine a Tribuna do Norte.

Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a resistência à vacinação, impulsionada pelo movimento antivacina, como uma das dez maiores ameaças à saúde global em 2019
Vanuza Borges
A resistência à vacinação foi incluída pela organização Mundial da saúde (OMS) como uma das dez maiores ameaças à saúde global em 2019. A inclusão, que figura entre vírus mortais como do ebola, HIV, dengue e influenza, foi feita diante do avanço do movimento antivacinação em vários países e, ao mesmo tempo, do ressurgimento de doenças graves e evitáveis, como o sarampo- o Brasil registrou mais de 10 mil casos em 2018. A passos largos também são disseminadas informações falsas (fake news) que ressuscitam velhos boatos acerca da vacinação em massa.
Um dos principais mitos associados à vacinação está um estudo fraudado publicado em 1998 pelo médico britânico Andrew Wakefield, que associava a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) ao aumento da probabilidade de desenvolvimento de transtornos do espectro do autismo (TEA). “Ficou comprovado que se trata de uma fraude. O autor da pesquisa fez essa associação e, passado algum tempo, descobriu-se que ele havia solicitado a patete para uma nova vacina contra sarampo”, observa o médico infectologista José Ruy Conde Alves, de Apucarana.
O infectologista chama a atenção que, apesar do médico ter sido investigado e ter o direito de exercer a medicina caçado no Reino Unido, vários artigos ainda circulam na internet como se o estudo fosse válido. Wakefield, que atualmente mora nos Estados Unidos, é uma das principais vozes do movimento antivacina. No país não são raros os casos de sarampo, inclusive algumas regiões de Nova York, como Brooklyne Queen, têm registrado centenas de casos.
De acordo com José Ruy, além do movimento contra vacinas, algumas comunidades alegam motivos religiosos para não se imunizar. Um exemplo, neste sentido, também vem de Nova York, do condado de Rockland, que chegou a decretar a proibição de jovens não vacinados de frequentar espaços púbicos. “Essa situação não é ideal quando se trata de saúde coletiva. É importante frisar que as vacinas são seguras. Efeitos colaterais ou adversos são muito baixos e transitórios”, afirma.
José Ruy reforça que a OMS lista duas situações de saúde pública essenciais para o desenvolvimento humano: saneamento básico e vacinação. “A vacinação em massa permitiu o controle de várias doenças. Porém, a negligência com um desses dois fatores aumenta o risco de doenças controladas voltar”, alerta.
O especialista observa ainda que toda aplicação de vacina é cientificamente orientada quanto as doses de reforço. “Caso o indivíduo não siga corretamente o protocolo, que é baseado em estudos científicos, não estará completamente imunizada”, diz.
O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) – 83 mil casos de sarampo foram registrados na Europa em 2018 – ressalta que a vacina ainda é o principal meio de prevenção primária de doenças, além de apresentar o menor custo/benefício.

Vacinação: um gesto de cuidado
Para o médico pediatra Luiz Carlos Busnardo, de Apucarana, manter a vacinação da criança em dia faz parte da rotina de cuidados. “Todas as vacinas são extremamente importantes e seguras e fazem parte dos cuidados básicos com a saúde da criança, que começa com o pré-natal”, avalia.
O especialista observa que as vacinas são essenciais para evitar diversas doenças, que podem comprometer a qualidade de vida da criança ou até ocasionar o óbito em casos graves, como a poliomielite (chamada também de paralisia infantil), meningite, sarampo, que registrou mais de 10 ml casos no ano passado após ser erradicado, entre outras.
Na observação de Busnardo, os pais não têm mostrado resistência quanto à imunização dos filhos. “Porém, caso surja qualquer dúvida, explicamos a importância da imunização e a segurança que envolve o processo de produção de vacinas”, afirma.
Para ele, as dúvidas surgem por causa da propagação de informações falsas, que ganham expressividade através da internet. “Porém, antes de repassar ou acreditar nessas informações, é preciso checar a fonte e, se for o caso, tirar as dúvidas com o médico pediatra”, orienta.
Desde o ano passado, no Paraná, através da Lei Nº 19.534, é obrigatório a apresentação da carteirinha de vacinação de alunos com idade até 18 anos no ato da matrícula. A medida visa incentivar a vacinação no Estado.

“É um direito dos meus filhos”, defende a professora Daniele Hegeto de Freitas 

Um direito. Assim define a questão das vacinas a professora Daniele Hegeto de Freitas, 36 anos, de Apucarana. Mãe da Natália, 8 meses, e do Samuel, de 3 anos e 9 meses, ela e o marido, o engenheiro civil Leandro Violin, 35, mantêm em dia a vacinação dos filhos e as deles também.
“As crianças tomam todas as vacinas previstas pelo Calendário Nacional de Vacinação, além das indicadas pelo pediatra que estão disponíveis somente na rede particular, como a meningocócica B. É, ao mesmo tempo, uma precaução e um direito deles. Não vejo como opção”, defende a mãe, observando que quando crescerem poderão decidir sobre o assunto.
No entendimento de Daniele, as informações veiculadas nas mídias sociais sobre vacinas não têm embasamento científico. “Quando eu vacino os meus filhos e mantenho minha vacina também em dia, não estou somente eles ou a mim mesma, estou ajudando a proteger outras pessoas, não transmitindo a elas uma doença”, diz.
Como exemplo, ela comenta a experiência com vacina da gripe. “Eu e meu marido sempre tomamos e não temos mais gripe forte, somente resfriado”, afirma.

Mitos da vacinação

Tríplice viral causa autismo

A vacina tríplice viral não causa autismo. Essa suposição surgiu após o médico britânico Andrew Wakefield apresentar um estudo fraudado em 1998, na Inglaterra. A farsa foi descoberta e ele proibido de exercer a medicina no Reino Unido. 

Efeitos colaterais desconhecidos e até fatais
As vacinas são seguras. A maioria das reações são pequenas e temporárias, como braço dolorido ou uma febre ligeira. Eventos graves de saúde são extremamente raros e, quando ocorrem, são monitorados e investigados.
Síndrome da morte súbita infantil
Não há relação causal entre a administração de vacinas contra a difteria, tétano e coqueluche e a vacina contra a poliomielite e a síndrome da morte súbita infantil (SMSI). Essas quatro doenças são fatais e os bebês não vacinados sofrem sério risco de morte ou incapacidade grave.
As doenças estão erradicadas
Não é verdade. Não se pode relaxar quando o assunto é vacinação. Embora as doenças evitáveis por vacinação tenham se tornado raras em muitos países, os agentes infecciosos que as causam continuam a circular em algumas partes do mundo e podem infectar qualquer pessoa que não esteja protegida.
Sobrecarrega do sistema imunológico
Estudos científicos mostram que aplicar várias vacinas ao mesmo tempo não causa aumento de eventos adversos sobre o sistema imunológico das crianças. A vacinação combinada – como para sarampo, caxumba e rubéola – gera menos aplicações de injeções e menos idas ao posto de saúde.
O perigo do mercúrio
Não existe evidência que sugira que a quantidade de tiomersal utilizada nas vacinas represente um risco para a saúde. O tiomersal é um composto orgânico, que contém mercúrio, adicionado a algumas vacinas como conservante. É o conservante mais utilizado para vacinas que são fornecidas em frascos multidose.
Fonte: Ministério da Saúde 

Imagem ilustrativa da imagem Vacinas na mira de fake news